quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

globotv.globo.com
Programa é produção especial para os 50 anos da emissora.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

REPÓRTERES CINEMATOGRÁFICOS - GLAUCIUS OLIVEIRA

GLAUCIUS OLIVEIRA é jornalista formado pela Feevale, e cursa pós-graduação em jornalismo e convergência de mídias. Começou em 1995 na TV Cidade Canal 20, de Pelotas, como repórter cinematográfico. Atuou depois na RBSTV Pelotas, até se transferir para Novo Hamburgo, onde cursou a universidade. Fez trabalho de conclusão de curso abordando a importância do repórter cinematográfico na produção televisiva.  Na TV Feevale, emissora universitária afiliada à TV Cultura/SP, Glaucius atua como repórter cinematográfico e também como editor e diretor de imagens. Também dá aulas práticas de telejornalismo.  
Desde 2010, é repórter cinematográfico na Band RS, de Porto Alegre. Em 2011, conquistou o Prêmio ARI - Associação Riograndense de Imprensa. 




 
1)     O cinegrafista deve interferir na edição?

Sempre estar acompanhando todos os processos. Isso às vezes não acontece devido à correria do dia-a-dia. A edição é importante para a boa execução da reportagem e o cinegrafista, que esteve no local, sabe como ninguém o que é mais importante na hora da finalização - junto com o repórter, é claro.

2)     Como a tecnologia está influenciando no papel do cinegrafista?

Muito! O cinegrafista tem que estar pronto as mudanças tecnológicas todos dos dias. A reciclagem é muito importante para que ele se destaque e possa desempenhar tarefas que agreguem valor a seu trabalho!! Quem não estiver disposto a mudar e conhecer os novos formatos estará fora do mercado em pouco tempo.

3)     O que é mais importante no olhar do cinegrafista?

O olhar apurado e principalmente a visão periférica, que faz com que ele mostre a realidade bem próxima do real. Essa é para mim a principal qualidade do profissional da imagem.

4)     Cinegrafista mulher tem espaço?

Com certeza, acho que o papel da mulher é importante em todas as profissões. Ela esta cada vez mais nos ambientes digamos, só para homens. Hoje não temos mais isso. E não seria diferente na TV. As mulheres tem uma visão diferenciada do todo. E claro que isso, na imagem, faz muita diferença.

5)     Há diferença em trabalhar com repórter homem ou mulher?

Não vejo diferença alguma. O bom cinegrafista deve estar preparado para qualquer profissional.

6)     Que peso o cinegrafista deve ter na construção da reportagem?
Deve dividir a responsabilidade com o repórter, ter o mesmo peso. Não deve se eximir de nada. Deve sim acompanhar todos os processos.

7)     Dica para cinegrafistas novatos:

Primeira e única dica, gostar do que faz. Se não gosta, esquece! Muda de profissão!

8)     E para repórteres novatos:

Ter a percepção que ele não está sozinho, e que a reportagem que está executando é de responsabilidade dele e do cinegrafista que o acompanha.

9)     Qual o tipo de reportagem mais desafiadora?

As que ajudam as pessoas de alguma maneira. Acho que o papel social dos jornalistas é de extrema importância.

10)   Como percebe o olhar dos editores e chefes de reportagem sobre o trabalho dos cinegrafistas?

Em todas as profissões temos aqueles que entendem ou não. No telejornalismo não seria diferente. Precisamos ter mais diálogo entre todos que fazem parte dos processos. O cinegrafista tem que dialogar mais com as chefias, e não apenas chegar com problemas, arrumar soluções e fazer parte do dia-a-dia das redações.

11)   Cinegrafistas que fizeram história:

Para mim, um grande cinegrafista para mim é o Paulo Zero (Rede Globo), grande jornalista premiado, que conhece como ninguém os processos televisivos.

12)   O telejornalismo mudou?
Mudou muito e vive um momento complicado. Acho que precisamos rever vários processos que o telejornalismo vem passando. Mudanças são necessárias, e estou muito preocupado com o rumo que o jornalismo televisivo está tomando.

20)  As emissoras de tv usam cada vez mais imagens de populares feitas com celulares e cãmeras amadoras. Isso preocupa?
            
A qualidade da produção factual de jornalismo de TV vem caindo assustadoramente. A visão que se tem é que qualquer coisa vale. Precisamos sim, dar a noticia; mas isso não quer dizer que temos que colocar qualquer coisa no ar, na busca desenfreada pela audiência. Precisamos ter cuidado e ver o quanto estamos prostituindo a imagem. Televisão é imagem, e de qualidade. Rever os processos é preciso!




segunda-feira, 2 de abril de 2012

CAMINHANDO, CANTANDO E REPETINDO A CANÇÃO...

Já se vão 48 anos desde o primeiro dia daquele período que se convencionou chamar de “Anos de chumbo” .

Foram 20 anos de domínio dos militares no comando do país.

O Golpe de 64 instaurou no país uma ditadura de farda que, como toda ditadura, trouxe imposições severas à nação, a começar pelas restrições à liberdade de imprensa e de manifestações públicas contra o “regime”.

Ao longo deste tempo, o garrote proporcionou fases de sufoco torturante e outros mais, digamos, complacentes, conforme os humores do general-presidente e seu Estado-Maior, acomodados em Brasilia naquele momento.

Ninguém discute que houve excessos em nome de uma pretensa proteção da pátria.

Gente foi torturada e morta nos calabouços dos quartéis e delegacias.
A censura contra a imprensa, a arte e várias formas de expressão foi inclemente.
Os algozes mais ainda.

Por outro lado, grupos de ativistas pela volta da democracia fustigaram os militares, na tentativa de provocar fissuras que permitissem derrubar o muro do regime autoritário.

As escaramuças, antes legítimas pela intenção, passaram a flertar e agir muitas vezes como puro ato de terrorismo.

Com a frieza e a inconseqüência que está na natureza deste tipo de ação.

No clima da Guerra Fria, utopias turvaram pensamentos e orientaram ações afoitas e mortais na caserna e entre os grupos guerrilheiros. 

Os dois lados abusaram da violência.

Gente inocente foi morta por ambos, em maior ou menor proporção - o que não exime ninguém de culpa.

Em 1985, depois de um período classificado como “distensão” ou “abertura lenta e gradual”, aconteceram as eleições, ainda indiretas, mas que, bem ou mal, permitiram a volta dos civis ao comando da nação.

Era como se o país estivesse nascendo de novo.

Hoje, por estes dias em que o “golpe” faz aniversário (31 de março ou 1º. de abril - a data varia conforme os historiadores), o assunto, que está sempre pairando sobre nossas cabeças, mesmo quase três décadas depois, ganha novo fôlego.

Mas, como em toda nação imatura, o que turbina os debates é, invariavelmente, o clima de revanche.
E voltamos a remoer o passado, enaltecendo mártires e execrando carrascos.

Discussões acaloradas focam na punição dos militares que excederam os limites do dever. Ou o distorceram, e em nome disso cometeram crimes.
E no meio disso tudo, uma certa aura de romantismo libertário atenua ou mesmo perdoa os excessos cometidos pelos militantes “de esquerda”, que também seqüestraram, torturaram e mataram, escudando-se na luta pela democracia.

É uma discussão interminável.

Até que ponto devemos dedicar tanta paixão a este debate, quase meio século depois do início da quartelada de 64?

Porque temos tanta necessidade de chafurdar revolver este tema, como se precisássemos ter uma história épica de revolução para nos orgulhar diante do mundo, agora e daqui a 100 anos?

Precisamos tanto assim de uma Bastilha para nos vangloriar da capacidade de levante popular?

Se há quase 30 anos os militares deixavam o poder, hoje o que temos é uma classe política que ainda não honrou a vitória que a nação obteve quando a tropa deixou o Planalto para voltar aos quartéis.

Desde então, temos visto descalabros no Congresso e na administração pública em geral, que nos maculam perante o mundo muito mais do que o período militar.
Exemplos deploráveis que contaminam as novas gerações.

Desmandos, conluios, hipocrisias criminosas, assaltos à nação que, mais do que bilhões surrupiados em dinheiro, continuam a consolidar uma cultura de leniência com o “toma lá, dá cá”, de resignação com uma estrutura viciada que não se conserta nunca e só piora, com a máquina pública que só consome impostos e vira as costas para a nação. 

Nossa imagem negativa mundo afora, mesmo com todos os ufanismos turbinados pela Era Lula (coisa que a esquerda sempre criticava no regime militar, como a grandiloqüência delirante do “Milagre Brasileiro”), não muda com expressões do tipo “Nunca na história deste país...”

Está na hora de dar menos paixão às discussões embaladas por canções de Geraldo Vandré e tratar de agir com mais firmeza para mudar o aqui e agora - essa sim, a atitude que vai fazer alguma diferença no nosso presente e no nosso futuro.

Está na hora de discutir pra valer a reforma política, que nunca vai acontecer se deixarmos este trabalho para a classe política.

O mesmo vale para a reforma tributária.

Isso sim fará diferença nas nossas vidas, e não um tribunal de inquisição permanente para exorcizar o passado.

Muitos dirão que isso é escapismo, cumplicidade, tolerância com ditadores, etc.

A patrulha não descansa, como se não tivesse mais o que fazer pelo país.

No dia em que toda esta energia for canalizada para tratar do presente, aí sim talvez tenhamos alguma chance de mostrar ao mundo e aos nossos filhos e netos, que fomos suficientemente maduros para construir centenas de eficientes hospitais públicos, escolas e universidades bem estruturadas.

E que só depois disso nos preocuparemos em sediar copas do mundo e olimpíadas.








quinta-feira, 29 de março de 2012

MUITO MAIS QUE UMA TV MUÇULMANA

 A rede de TV árabe Al Jazeera deu esta semana uma admirável demonstração de seriedade e maturidade profissional ao atender um pedido do presidente francês Nicolas Sarcozy.

A emissora árabe (sediada no Qatar) tinha em mãos um vídeo exclusivo enviado anonimamente pelo correio.

A gravação de 25 minutos, num pen drive, mostrava cenas feitas pelo fanático muçulmano Mohamed Merah.

Ele gravou, com uma câmera presa no peito, o ataque que fez a uma escola judaica em Toulouse, arredores de Paris, na semana anterior. 

Alegando vingança pelas crianças palestinas e punição para os  franceses pelo envio de tropas ao Afeganistão, ele matou três militares, um professor e três crianças. Acabou morto por policiais na quinta-feira passada, após um cerco de 32 horas.

Em vez de incendiar ainda mais os ânimos sempre acirrados contra o ocidente no mundo árabe, a Al Jazeera, tão logo recebeu e avaliou a gravação, informou as autoridades francesas. Quantas emissoras ocidentais teriam tomado esta atitude?

Sarkozy fez então um apelo à emissora para que o material não fosse veiculado, argumentando que não haveria justificativa para exibir a morte de cidadãos franceses naquelas circunstâncias.

Havia também, embora Sarcozy não tivesse mencionado, o temor de que as imagens pudessem incitar outros radicais suicidas. 

Muito além da surrada questão do terrorismo, o que também merece reflexão nisso tudo é a postura adotada pela rede árabe. Um gesto que deve ser saudado nestes tempos em que ainda ecoam as paranóias do 11 de setembro, e que alimentam a imagem rancorosa que o ocidente tem do mundo muçulmano. 

A Al Jazeera não só evitou ceder ao sensacionalismo como ainda vetou a distribuição do material para outras emissoras. Certamente, muitas redes ocidentais teriam agido diferente.

E mostrou que, apesar dos tresloucados com túnicas e bombas na cintura, o Oriente Médio é muito mais que um mundo de imagens exóticas povoado por uma gente misteriosa cheia de intenções obscuras.  


quarta-feira, 28 de março de 2012

O OLHAR DO CINEGRAFISTA: TÉCNICA E ATITUDE!


Este é um assunto com um belo potencial para criar crises entre repórteres e cinegrafistas.


Mas é preciso superar os melindres, em nome do melhor resultado.
Para começar, é preciso estabelecer uma diferença básica: há duas categorias de profissionais da câmera: os operadores de câmera e os repórteres cinematográficos, ou cinegrafistas.

Os dois operam equipamentos similares, mas com linguagens e aplicações diferentes.

Operadores de câmera geralmente trabalham no estúdio, com câmeras em dollyes (tripés ou suportes hidráulicos com rodas), e seguindo um roteiro pré-estabelecido de movimentos e enquadramentos. Recebem ordens pelos fones, ditadas normalmente pelo diretor de imagens.

Repórteres cinematográficos trabalham em externas, tendo a maior parte do tempo a câmera no ombro.  E precisam estar permanentemente atentos a tudo ao seu redor.

Ao contrário dos operadores, enquadrados como técnicos radialistas, os cinegrafistas, em muitas emissoras, tem quase status de jornalistas - menos no salário, claro...    

As regras básicas valem para as duas categorias. Mas existem parâmetros que vão muito além do enquadramento correto, foco ajustado, movimento adequado e iluminação afinada.

E são especialmente críticos para os repórteres cinematográficos, que atuam nas ruas tendo apenas o próprio olho como “diretor” de imagens.

Pequenas distrações provocam grandes danos na imagem.

Ao enquadrar o repórter (e mesmo entrevistados), o cinegrafista tem que zelar por detalhes que vão além do básico.

Fio de microfone de lapela ou do fone aparecendo, cabelo desalinhado, roupa amassada ou desajeitada, brincos extravagantes, manchas de sujeira na pele, adereços inadequados, caneta despontando no bolso, gola de fora, gravata torta, repórter ruminando chiclete, zíper aberto, etc, etc.

Ok, você pode dizer que isso deve ser preocupação do repórter, é ele que tem que cuidar da sua imagem; o cabelo é dele, a roupa é dele, é ele quem vai estar na tela para milhares ou milhões de pessoas.

Óbvio que o repórter deve obrigatoriamente cuidar destes detalhes.   Mas, muitas vezes, as circunstâncias do momento provocam estas distrações. E ele nem sempre percebe que está desgrenhado na imagem.

E, no final das contas, o verdadeiro responsável pela qualidade da imagem é o cinegrafista.

Ele não pode simplesmente perceber algumas destas imperfeições e deixar passar, colocando a responsabilidade no repórter.  

Pode parecer injusto falar assim., mas a imagem que vai para a tela do telespectador é resultado do trabalho do cinegrafista. Simples assim.

Ele tem que abrir mão de posturas radicais do tipo “azar deste repórter se não sabe se arrumar nem pentear o cabelo! Fiz meu trabalho e pronto!”

Todo cinegrafista deve chamar a atenção do(a) repórter quando percebe algum destes problemas.
Deve alertar para o cabelo desarrumado, o nó mal feito da gravata ou o brinco gritante.

Bem, se o repórter não acatar, aí sim, é azar dele. O importante é que o cinegrafista fez sua parte ao tentar a melhor composição de imagem. 

O cinegrafista, independentemente de questões pessoais, deve ter o sentimento de querer ver o seu repórter bem no vídeo. Televisão é imagem.

Muitos cinegrafistas discordarão, pois tudo isso tem muito a ver com posturas pessoais.

Vamos a outro exemplo - um tanto radical, mas apropriado nesta discussão: se um repórter é baixinho (como eu...) e o entrevistado muito mais alto, o cinegrafista deve encontrar uma maneira de atenuar esta diferença. Não por caprichos do repórter, mas pelo bem do enquadramento e da composição.
Não significa dizer que ele tem que bancar Deus e esticar o repórter  ou encolher o entrevistado.

O cinegrafista precisa, antes de achar que a culpa das estaturas não é dele, entender que acima de tudo vem a plasticidade da imagem, a composição equilibrada que vai manter a atenção no telespectador no tema da entrevista.

Nem sempre isso será possível. Mas o cinegrafista cuidadoso vai pelo menos levar isso em consideração antes de gravar.

Ser meticuloso em relação a todos os detalhes mencionados aqui é característica dos verdadeiros repórteres cinematográficos.

Incontáveis vezes, minha imagem no ar foi salva pelo capricho visual de colegas cinegrafistas atenciosos não só comigo, mas principalmente com a imagem que eles assinariam.

Televisão é imagem.
Mas não qualquer imagem.



sexta-feira, 23 de março de 2012

É MESMO O FIM DOS FICHAS-SUJAS?

O projeto aprovado no Congresso, barrando os “fichas-sujas” já na próxima eleição, foi, sem dúvida, um marco no nosso letárgico e renitente processo para recompor alguma decência aos hábitos políticos desta nação.

Mas, calejados que somos com a nossa classe política e nossos sistemas de governança (municipal, estadual e federal), totalmente viciados em modelos de gestão distorcidos, temos que analisar esta “conquista” com os dois pés atrás.

Especialmente nós, jornalistas.

Por isso, recomendo a leitura do artigo de Percival Puggina, colunista da excelente Revista Voto. A última edição foi lançada há duas semanas.

No artigo intitulado “Fichas-Limpas num sistema Ficha-Suja”, ele faz uma análise extremamente lúcida e contundente sobre as implicações da nova regra, num ambiente onde tudo, a começar pela cultura reinante, é preparado para favorecer os não tão imaculados.

É uma leitura fundamental, pela precisão e clareza com que Puggina descreve as reais possibilidades de que a decisão do Congresso tenha algum efeito prático no pantanoso e mal cheiroso universo da política e da administração pública.

Confiram que vale a pena. Se não forem nas bancas, acessem www.revistavoto.com.br.

Abraços, boa leitura e boa reflexão!


segunda-feira, 19 de março de 2012

A DITADURA DEMOCRÁTICA DO FLAGRANTE

Título esquisito? Não. Esta aparente contradição define uma fase preocupante das reportagens de TV atualmente.

O telejornalismo brasileiro foi picado há alguns anos pelo mosquito do flagrante.
Este bichinho tinhoso nasceu nas poças de sangue que verteram de programas sensacionalistas como o Aqui e Agora, criado pelo SBT no final dos anos 90.

O programa, que apostava na até então inédita abordagem exagerada e teatralizada do chamado mundo cão, durou até a chegada dos anos 2000.
Morreu contaminado pelo vírus que ele mesmo inoculou nas redações das TVs pelo Brasil afora.

Ficou tão over, com repórteres bizarros como Gil Gomes (falecido há poucos anos), que o modelo acabou assustando os anunciantes. As empresas não queriam mais suas marcas associadas a um programa daquele gênero.

Mas eram outros tempos... 

Como em toda epidemia que se preze, o vírus disseminado pelo Aqui e Agora contaminou outros e continuou se espalhando. Lentamente, mas inexoravelmente.

Ainda lá nos anos 90 a própria Rede Globo resolveu arriscar no então sombrio território dos programas policiais. E lançou o Linha Direta, programa em horário nobre que explorava, com requintes de novela e reconstituições sofisticadas usando atores, casos de polícia que tiveram grande repercussão.
A atração teve como âncoras jornalistas renomados, como Domingos Meirelles e Marcelo Rezende. Mas não emplacou por muito tempo.

Apesar disso, a linguagem dramática e tensa nas reportagens policiais, inaugurada em rede pelo SBT lá atrás, estabeleceu uma tendência cada vez mais valorizada pelas grandes redes.

Hoje a linha de programas jornalísticos apoiados na cobertura policial está consagrada.
Band, SBT e Record tem não só produções próprias (Brasil Urgente, Balanço Geral  e outros) como também veiculam atrações de produtoras independentes (Policia 24 horas). Redes regionais seguem o mesmo caminho.

Sempre haverá quem conteste este gênero.

Mas, mesmo com as críticas intensas dos detratores, falando de conteúdos sanguinolentos, exploração insensível das mazelas humanas, etc, estes programas trazem os dramas do dia a dia e acabam ecoando os anseios da população,que clama por mais segurança, mais hospitais, mais emprego, etc. 
E, de quebra, esta tendência trouxe uma saudável democratização dos conteúdos.

A corrida entre as TVs por imagens de flagrantes abriu as portas para que qualquer cidadão armado com celular, câmera fotográfica ou câmera de vídeo amadora, registrasse acontecimentos e visse suas produções veiculadas nos programas e telejornais.

Cenas de acidentes de trânsito, perseguições policiais, atos de violência, incêndios e até brigas de vizinhos chegam às redações pelas mãos de pessoas que antes apenas contemplavam este tipo de imagem nas telas de TV. 

A esse tsunami de flagrantes amadores, se somam os incontáveis registros das câmeras de segurança, privadas ou de sistemas públicos, em cidades e rodovias.

Tudo isso recheou os programas policiais e telejornais com um aluvião de factuais registrados em vídeo – e de graça, salvo raríssimas exceções. Conteúdos que podem ser enviados pela internet.

Ok, essa é a democratização. E onde está a ditadura?

Ela é visível nas telas.

A avalanche destas imagens geralmente precárias levou por diante critérios de avaliação técnica que até algum tempo eram indevassáveis nas redações de TV.

Em nome do factual (o tal flagrante), imagens que editores costumavam rechaçar por causa da baixa (ou nenhuma) qualidade, agora são vistas como material de luxo. Se for exclusivo então, é ouro puro!

Isso é preocupante, mas não muda o fato de que é uma verdadeira democratização de conteúdos, a partir da “participação popular”.

O alerta que quero fazer aqui é que esta tolerância, ou mesmo preferência, por materiais de baixa qualidade em nome do flagrante está criando uma séria distorção nos conceitos de captação e veiculação de imagens. E por tabela, no resultado final das reportagens.

É especialmente preocupante para os repórteres cinematográficos mais novos, que estão desenvolvendo suas habilidades neste ambiente.

Muitos acabarão consolidando seus conceitos técnicos baseados na imposição do flagrante, em detrimento de imagens mais bem trabalhadas em termos de movimento, enquadramento, luz e até mesmo foco.

Uns, pela inexperiência, gravarão matérias com sérios defeitos pensando inocentemente que aquele é o padrão. Outros, mais veteranos, se resignarão e esquecerão as boas regras de captação, para não contrariar o modelo vigente e serem considerados “ultrapassados”.

O mesmo receio se aplica aos editores de imagem e de redação.

Mas afinal, diante disso tudo,  ainda é possível continuar produzindo reportagens com imagens de qualidade, apesar do frenesi imposto pela ditadura do flagrante?

Claro que sim. Mas, tal como a postura de um repórter diante de um fato, isso depende da atitude pessoal de cada um - cinegrafista, editor ou produtor.

Qualidade sempre será qualidade, mesmo numa nervosa perseguição policial.

E zelar por ela será, repito, uma atitude pessoal.