A derrota do Inter em Abu Dhabi me lembrou um episódio recente que registrei na memória por ser um bom exemplo de postura adequada dos repórteres na hora de entrevistar os personagens envolvidos nestes momentos digamos, dramáticos.
Na derrota do Brasil para a Holanda, na última copa, que deixou o país apatetado, o repórter Tino Marcos, da TV Globo, minutos após o fim do jogo, foi entrevistar o goleiro Júlio César. Entrada ao vivo, com todo o nervosismo que isso traz. O atleta estava visivelmente abalado. Tenso, trêmulo, não conseguia tirar as luvas.
Diante da câmera, era a imagem da frustração que refletia o sentimento dos brasileiros. Bem, nesta hora, muitos repórteres, ávidos pela cobrança, poderiam ceder à tentação de abater a presa ferida de morte e massacrar com perguntas do tipo "Porque a seleção foi tão mal? O que deu errado? Como você tomou aquele gol??".
Mas Tino Marcos, experiente e acima de tudo, com classe e respeito, antes de dizer qualquer coisa, aproveitou os segundos de desespero do goleiro que tentava atrapalhadamente tirar as luvas ante as câmeras ao vivo, e se dirigiu ao atleta com um tom quase paternal: " Antes de mais nada eu queria agradecer ao goleiro Júlio Cesar por nos dar esta entrevista num momento tão difícil...". A partir daí, a entrevista fluiu, do jeito que poderia fluir naquele momento.
São atitudes como esta que fazem toda a diferença entre repórteres. Somos sim perguntadores, cobradores, insistentes e agudos; é do nosso ofício. Mas isso não nos dá o direito ilimitado de agir como inquisidores ferozes para extrair respostas a qualquer custo. Uma boa entrevista não depende de transformar microfone ou caneta em chicote.
Em tempo: versátil, Tino Marcus já se aventura fora da cobertura esportiva: gravou um magnífico Globo Repórter em Galápagos.
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