Mas deixando um pouco de lado a discussão sobre o valor do canudo, é preciso tocar num aspecto que transcende ao debate sobre o "mandato" conferido legitimamente pelo diploma.
A gurizada que está chegando ao final do curso e que, com toda razão, fica alarmada com a possibilidade de perder o motivo pelo qual estudaram (e pagaram) por 4 anos ou mais, tem que considerar que a formação técnica da universidade não é tudo. Muito menos garantia de emprego.
Insisto num aspecto fundamental: a formação individual. Algo mais profundo que a assimilação pura e simples de conceitos sobre a semiótica na comunicação, teorias sobre o papel social da imprensa e outros conceitos tipicamente acadêmicos.
Falo de fatores que farão a diferença na hora de batalhar um emprego ou se consolidar nele.
Tão importante quanto a formação técnica é ser um jornalista formado como cidadão, plenamente consciente da responsabilidade que esta missão traz.
Isto significa ter convicção do nosso papel, tendo noção clara do estrago que somos capazes de fazer quando agimos irresponsavelmente.
Significa também investir na base cultural, ser uma pessoa bem informada não só sobre as manchetes do dia, mas sobre as mais diversas áreas do conhecimento.
Fico assustado com a alienação que assola nossos futuros jornalistas. E fico ainda mais apavorado quando vejo que grande parte dos alunos em final de curso já está trabalhando, estagiando em assessorias de comunicação ou redações – quando não empregados mesmo. Ótimo que já tenham uma colocação. Mas temo pelo desempenho desta gente.
Como professor de jornalismo, eu costumava aplicar no início das aulas um teste de conhecimentos gerais e atualidades, valendo nota. Perguntava sobre tudo: os fatos mais importantes do momento e seus desdobramentos, quem escreveu tal livro, quem governa tal país, onde fica determinada nação, o que deflagrou tal guerra, o que significa uma teoria científica x, um conceito de economia y, e por aí vai.
O resultado geralmente era desastroso. Respostas absurdas, realmente desanimadoras. E concluí que a maior parte da gurizada nova que hoje ingressa na profissão está mais ligada em Big Brother, nos fuxicos e exibicionismos perpetrados no orkut, msn, tweeter e afins, do que nas capas dos jornais ou sites de notícias.
Nos fones de ouvido, só música (geralmente ruim) ou papos desmiolados em rodinhas de locutores das FMs, especializados em transformar qualquer tema num show de "comentários" ridículos, sustentandos com gargalhadas quase histéricas.
Outra falha dos futuros profissionais: ter um exemplar de boa literatura sempre à mão? Nem pensar...
O que me anima é que, ao discutir com aqueles mesmos alunos os resultados das provas, eles riam - mas ao mesmo tempo em que debochavam, constrangidos, da própria ignorância, iam aos poucos desenvolvendo um certo senso de autocrítica. E nas aulas seguintes revelavam novas atitudes, valorizando hábitos como a leitura diária dos jornais, assistir telejornais, ouvir noticiários no rádio, abrir sites de notícias, etc.
Por isso, aos recém chegados neste ofício, e aos que estão quase lá, insisto: o diploma não é tudo. Para quem vive no mundo da lua, é pouco mais que nada, num mercado cada vez mais competitivo.
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