terça-feira, 1 de março de 2011

A PASSAGEM: QUANDO O REPÓRTER MOSTRA QUEM É - 2

A passagem é o momento de exposição máxima do repórter numa cobertura de TV. É quando ele domina a tela, para dar uma informação relevante e costurar a narrativa.

Por incrível que pareça, muitos repórteres experientes sentem-se inseguros neste momento. Os novatos tremem, e muitas vezes desistem!
Alguns veteranos também!


Ricardo e Alexandre Pinho, litoral RS



Nem sempre isso acontece por causa do “clima” daquele instante (que pode ser tenso e até arriscado, conforme o ambiente), ou por dificuldade em dominar o tema abordado.

Isso tem muito a ver com a personalidade.

Muitos repórteres se consagram como grandes jornalistas de TV sem que nunca tenham se sentido totalmente à vontade na hora da passagem. Alguns revelam claramente, pelo semblante e pelo tom de voz, que estão desconfortáveis naquele momento.

Mas nem por isso a reportagem sai prejudicada. Um bom exemplo é o Pedro Bassan (foto), correspondente internacional da Rede Globo. Ele tem um texto primoroso, com uma abordagem sempre precisa e inspirada. No entanto, as passagens, geralmente bem curtas, evidenciam que ele se sente melhor longe do enquadramento da lente. E não há nada de errado nisso. Mesmo “duro” na passagem, Bassan dá o recado.   

Falar direto para uma câmera, sendo focado e tendo a preocupação de não errar uma sílaba, tira a naturalidade de qualquer um, em maior ou menor grau. É absolutamente normal, é da natureza humana.

O que faz alguns serem mais espontâneos nesta hora é exatamente o perfil de personalidade. Uma coisa nata. Tem gente que não dá a mínima para aquela lente a um metro e pouco do nariz; e outros que se sentem como se estivessem sob a mira ameaçadora de um telescópio apontado pelos olhos do mundo.

Morro da Igreja, Aparados da Serra, SC

Bom, quer dizer que repórteres mais extrovertidos rendem mais do que os acanhados? Nada disso.

O que define a qualidade de uma passagem é a escolha da informação, do local, oportunidade e enquadramento (decisão que deve ser tomada junto com o cinegrafista), e a atitude do repórter frente à câmera.

Não é necessário fazer caras e bocas, nem a tal “cara de conteúdo” para dar credibilidade a uma passagem. Ao contrário: performances excessivamente afetadas ou mesmo teatralizadas acabam tirando o foco da matéria, levando o telespectador a esquecer o assunto diante de um repórter que exagera na dose.  

Mesmo que o repórter seja meio tímido, ele pode fazer uma boa passagem apenas sendo ele mesmo (cuidando, claro, para não fazer cara de criança que fez travessura), tendo o cuidado de escolher uma informação consistente e fazer um texto direto, sem rodeios nem firulas de linguagem. E falar com segurança.


Jorge Goulart e Ricardo, Manobras internacionais da FAB em Passo Fundo,RS


Não é recomendável contrariar o seu jeito de ser. Repórteres que não tem naturalidade para fazer “brincadeiras”, como em passagens de matérias mais leves (e é muito comum na cobertura esportiva), devem evitar fazer performances que exijam um certo grau de desenvoltura ou mesmo teatralidade. Acaba virando caricatura.

Se o tema da matéria permite uma atuação, digamos, mais “soltinha” do repórter, e ele é do tipo mais contido, deve então ter muito cuidado para não bancar o bobo na passagem, evitando fazer gracinhas que só o deixarão falso, para não dizer ridículo.

Também não dá pra ser duro demais. O ponto de equilíbrio está na sensatez e na consciência de que o mais importante é contar bem a história, e não “atuar” frente à câmera.

No próximo texto: qual o tempo ideal para uma passagem?




Ricardo e Mário Vial, Córdoba, Argentina 

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