quarta-feira, 16 de novembro de 2011

PROFISSÃO PERIGO - Por Milton Cougo

Milton Cougo é um dos mais respeitados repórteres cinematográficos do país.  Trabalhou na RBS TV, Rede Globo, TVE, SBT e Band de Porto Alegre e São Paulo, além de produtoras do centro do País. Foi o primeiro repórter cinematográfico a presidir a Associação dos Repórteres Fotográficos e Cinematográficos do Rio Grande do Sul – ARFOC-RS. Hoje é vice-presidente da entidade. É um dos mais premiados no sul (foi o primeiro Prêmio Esso para uma equipe de TV gaúcha, do SBT). Participou de várias coberturas internacionais e campanhas políticas no Rio Grande do Sul, Roraima, São Paulo e no Paraguai. Atualmente trabalha na Unidade de Comunicação do Sistema FIERGS. É também vice-presidente da ARFOC-RS.   



PROFISSÃO PERIGO

É com pesar que perdemos o colega Gelson Domingos da Silva, da TV Bandeirantes, alvejado por um tiro na cobertura da Favela Antares, no Rio de Janeiro. Mais um profissional da imagem! Mais uma vida!

Uma noticia velha! Vivemos numa correria onde o tempo voa, a informação é instantânea!

Depois da morte do Gelson, quanta coisa já aconteceu: tomada da Rocinha, muita gente nasceu, muita gente morreu!

Eu não conhecia o Gelson, mas resolvi escrever algo.

Sou repórter cinematográfico e trabalho há 32 anos. Posso dizer que tenho alguma experiência e passei por muitas situações de risco. Sei que muitos colegas também já passaram e passam no seu dia a dia por estas coberturas.

Somos jornalistas da imagem, apaixonados pela nossa profissão, por cumprir nosso ofício de bem informar através das imagens.

Talvez só por isso acabamos sendo vítimas do nosso despreparo. Não somos policiais treinados. Nossa arma e escudo é uma câmera de video ou fotográfica.

Acho que está na hora das empresas de comunicação, faculdades, autoridades e profissionais tomarem uma atitude. Proporcionar um curso preparatório, receber orientações necessárias, melhores condições de trabalho e precauções.

Já está provado que não adianta só dar um colete a prova de bala. O tiro não respeitou o colete do Gelson.

Temos ótimos profissionais, alguns experientes e outros nem tanto, que contam com o anjo da guarda de plantão. Em relação ao colete, por exemplo, não pode ser da mesma cor do colete da polícia. Deveria ser padronizado com a identificação de imprensa.

Só que isto é muito pouco. Não somos super-homens. Não acontece nada, até o dia de folga do anjo da guarda.

Você está na redação e chega a informação de um tiroteio; aí a chefia convoca a primeira equipe livre ou a mais próxima para fazer a reportagem. Só que a repórter saiu da faculdade há pouco tempo, e o repórter cinematográfico é novo... Nunca passaram por nada igual, nunca foram treinados para este momento.

Mas arriscarão suas vidas e poderão não voltar.

Há profissionais que são contratados como operadores de câmera de externa para exercer a função de repórter cinematográfico, ganhando menos e nem sempre com a qualificação necessária.

Acho que não pode ser assim.

Os profissionais deveriam ser preparados para fazer parte de uma editoria especial, levando em consideração a qualificação e o perfil de cada um.

Quem comanda nas redações também deve ter o conhecimento para avaliar.

Com isto não estou generalizando; sei que também há profissionais preparados para este tipo de cobertura. Mas é uma minoria dentro do universo que vivemos.

Não escrevo para achar culpados. Acho que todos nós somos responsáveis. Vivemos tempos de muita violência, devemos nos unir para discutir e colocar em prática melhores condições de trabalho e soluções para preservar a vida.

Que a morte do Gelson não tenha sido em vão! Mais uma vida!

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