TV Piratini, fim dos anos sessenta. Para vender ao mesmo tempo caminhão FNM e o automóvel JK, Sérgio Reis bolou comercial que iniciava com a tomada do caminhão vindo do fundo do estúdio. Ao parar, descia Ayrton Fagundes, o motorista, vestindo enorme casacão de couro. Imitando gringo, dizia:
- Isto sim que é caminhón, freio de súpio e buzina de corentela. Sobe a sera com facilidade e carega mais de dez toneladas!
Enquanto falava, ia caminhando e tirava o casacão, mostrando por baixo finíssimo smoking. Refinava então a linguagem e entrava em outro cenário com jardim, laguinho, folhagens, fachada de mansão, o JK estacionado à frente e bela mulher com vestido de noite esperando o amado.
Antes de sentar no carro, a moça dizia qual a revenda onde podiam ser encontrados os veículos.
O cliente gostou e mandou repetir.
Ayrton, na segunda apresentação, decidiu dar um pouco de “molho”: arrancaria o FNM de forma mais violenta e brecaria forte para ouvir-se o freio a vácuo.
Na hora, porém, o pé dele escorregou e o pesado caminhão avançou, demolindo o cenário e o JK.
A jovem escapou do atropelamento porque, pressentindo o perigo, levantou o longuinho e correu.
Era o primeiro acidente de trânsito ao vivo da televisão brasileira.
(Texto original extraído do livro “Anedotário da Rua da Praia”, De Renato Maciel de Sá Júnior, Ed. Globo, Porto Alegre, 1983)