quarta-feira, 30 de março de 2011

O PESADELO DA ENTRADA AO VIVO - 1


Uma vez li uma entrevista do Ernesto Paglia, um dos maiores repórteres da TV Globo. Ele dizia que, não importa quantos anos de experiência se tenha, entrada ao vivo sempre vai ser tensa e potencialmente arriscada. Para qualquer repórter.

O vivo é o momento em que sempre tudo pode dar errado: falhas técnicas improváveis mesmo com tantos testes, mudanças de clima que afetam o ambiente, intromissões de curiosos (amistosos ou agressivos), doidos que surgem do nada, cachorro latindo no lado do repórter, alarme que dispara sem explicação, e mais uma série de acontecimentos inusitados.

E isso tudo acontece tanto com equipes de emissoras bem equipadas como as mais mambembes. Ninguém está livre.

Claro que as “zebras” geralmente são exceções; mas a permanente possibilidade de alguma coisa não funcionar deixa o vivo com aquele ar de momento crítico. E como disse o Paglia, sempre é.

Bem, e quando a bruxa aparece e apronta alguma?

Na maioria das vezes, não há muito tempo pra consertar problemas inesperados no equipamento, e não adianta ficar praguejando com os técnicos, nem amaldiçoar os humores da natureza. E muito menos sair no tapa com algum popular que se mete na frente da câmera pra mandar recado para a mãe...

Só uma coisa pode “salvar” um vivo problemático, quando já está no ar: a presença de espírito da equipe e a segurança do repórter.
Se ele se mantiver calmo, mesmo que um sujeito inconveniente surja atrás dele gritando, ou tomar um choque do microfone, fica muito mais fácil contornar os problemas.

A atitude do repórter e da equipe, agindo com equilíbrio, com a cabeça no lugar, vai permitir que todos saiam honrosamente da enrascada diante do público.

Em primeiro lugar, não adianta querer inventar desculpas ridículas para explicar aos telespectadores o que na maioria das vezes ninguém sabe o que é.

Apelar para a famigerada expressão “temos uma falha técnica” é outro erro, pois não explica nada e só serve para jogar a culpa nos operadores, sem que se saiba mesmo o que está acontecendo. 

Um repórter seguro vai saber que o público não é besta, e que é melhor assumir o problema do que tentar mascarar uma situação que está ali aos olhos do mundo.

Se por exemplo, populares começam a incomodar ao redor, é preciso seguir firme no texto, e, se for o caso, fazer alguma observação sobre os ânimos naquele ambiente. Mas jamais perder o controle!

Se a situação começar a ficar insustentável, o melhor é abreviar o texto e encerrar a entrada, mesmo abruptamente. O pessoal na emissora vai entender, pois estão vendo tudo nos monitores. E o público também vai compreender.

Nas entradas ao vivo em estádios de futebol, é comum os torcedores se agitarem ao lado do repórter, com aquela gritaria típica. O ideal é levar com bom humor, entrando no clima, mas sempre pronto pra cortar o texto, pois torcidas geralmente são incontroláveis.

O repórter tem que estar sempre pronto para enfrentar problemas inesperados no vivo. Jamais deve esquecer que tudo pode acontecer. Mesmo uma simples entrevista pode trazer surpresas.

Vamos a um exemplo real: a competentíssima repórter Luciana Kraemer, então na RBSTV (hoje é professora de jornalismo investigativo na Faculdade de Comunicação do IPA) se preparava para uma entrevista ao vivo com a escritora Lia Luft, para o Jornal do Almoço. A entrada era na Biblioteca Pública. A apresentadora chamou a repórter, que entrou no “quantel” (a janela eletrônica no canto do vídeo) fazendo a introdução. Quando o enquadramento se abriu e encheu a tela, a entrevistada, que estava ao lado da repórter há segundos, havia sumido!

Luciana, totalmente segura, sorriu para a câmera, sem disfarçar a surpresa, e ainda brincou simpaticamente com os telespectadores, dizendo algo como “Ué, cadê a Lia?” E saiu atrás dela entre as estantes da biblioteca, até encontrá-la alguns metros adiante.

Neste caso, foi fundamental também a presença de espírito do cinegrafista Mário JR, que sinalizou com o olhar “Vamos atrás dela!”.  E a entrevista saiu perfeita.

Estar bem informado sobre o tema da cobertura também é absolutamente fundamental. Não é incomum o tempo previsto para uma entrada ser “esticado” em função do desdobramento dos acontecimentos ou simplesmente por mudanças na grade de programação.

Outro exemplo real então: eu cobria para a RBS TV uma rebelião no Presídio Central de Porto Alegre. Ia fazer um relato ao vivo da situação para o Jornal do Almoço. A idéia era de uma entrada de 1 minuto no máximo.

No momento previsto, o apresentador Lazier Martins me chamou e começamos uma conversa sobre o que acontecia naquela hora. Logo em seguida, pelo fone de retorno, a editora Mônica Roemmler me avisa que a conversa teria que ser mais longa.

Lazier foi fazendo mais e mais perguntas. E acabamos ficando no ar quase 13 minutos, uma eternidade em termos de televisão. Deu tudo certo porque eu tinha bastante informação e também porque o veterano Lazier facilitou bastante com perguntas pertinentes e bem colocadas.

No próximo post sobre as entradas ao vivo, outras situações que exigem autocontrole do repórter e afinação com a equipe. E mais alguns casos dramáticos, mas bem ilustrativos!




sexta-feira, 18 de março de 2011

CAUSOS DA TV - O TOCO DO VOVÔ JOAQUIM

Nota do blog: o texto preserva a redação original do livro

Em meados da década de 60, a TV Gaúcha (hoje RBSTV) apresentava o espaço infantil do Vovô Joaquim, sob patrocínio de conhecido magazine.

Em determinado dia, o apresentador brindava canetas oferecidas por outro estabelecimento comercial.

Como a colher de chá a quem não era patrocinador estivesse indo longe demais, o pessoal do estúdio, depois de inutilmente tentar avisar o Vovô através de gestos,  escreveu bilhetinho, pedindo para uma garotinha da platéia ir entregar-lhe.

O velho logo abraçou a menina e pegou encantado o papelzinho:
- Ah, uma mensagem pro vovô! Mas o Vovô Joaquim não enxerga direito! Lê pra mim, minha netinha, lê!

Ela, com a natural dificuldade da idade, foi linearmente pronunciando sílaba por sílaba, sob a vista angustiada da equipe:

- Para com esta badalação das canetas! Parece até que estás levando toco! Tu sabes muito bem que nossos patrocinadores são um saco!

(Anedotário da Rua da Praia 2, Renato Maciel de Sá Júnior, Ed.Globo 1981

quinta-feira, 17 de março de 2011

ARTESÃOS DE IMAGENS 3 - JAIR ALBERTO

Jair Alberto da Silva, ou JAIR ALBERTO, tem tantas histórias para contar que chega a ser um personagem folclórico. Dono de uma energia e uma obstinação inesgotáveis, leva uma câmera no ombro desde o final dos anos 70. Trabalhou na TV Guaiba, na RBSTV, Band/RS e na Rede Globo, onde fez coberturas com os repórteres top da rede: Caco Barcellos, Francisco José, André Luiz Azevedo, Marcos Losekan e muitos outros. Conhece como poucos territórios hostis como a Amazônia, onde trabalhou para a Globo por mais de 10 anos. Conquistou vários prêmios. Hoje atua como repórter cinematográfico freelancer, e é um dos mais veteranos ainda em ação. Um profissional que tem muito para ensinar.

 
1) A imagem mais difícil que já gravou:
- Foi no meio da mata amazônica, onde eu e a equipe tivemos que conquistar a confiança da tribo local (que não falava uma palavra em portuiguês), e tentar uma aproximação para fazer a reportagem para TV Globo. A tribo não era civilizada, e passamos por momentos muito difíceis e perigosos. Por fim, obtivemos sucesso.
2) O pior momento para um cinegrafista:
- Quando tu estas preparado para exercer o trabalho, e o equipamento falha...
3) A imagem mais gratificante:
- Foi quando encontrei e filmei um avião que havia caído na selva amazônica. A notícia que tínhamos era que ele tinha ficado sem combustível. Depois de alguns dias de procura, encontramos vivo um dos oito garimpeiros de Roraima que estavam neste avião. Ele nos levou até o local da queda. Foi muito significativo descobrir a verdadeira causa do acidente:  o avião tinha sido abatido com 32 tiros pela polícia da Venezuela. Esta reportagem trouxe não só a gratificação desta descoberta, como o reconhecimento em nível nacional de toda a equipe. O fato gerou também um conflito diplomático, e as autoridades venezuelanas foram obrigadas a divulgar um pedido público de desculpas.
4) O maior perigo que já enfrentou trabalhando:
-  Em uma das muitas viagens que fiz na Amazônia, uma em especial foi bastante delicada. Viajando num avião com outros  40 passageiros (funcionários da Petrobrás), a porta se abriu em pleno ar,  colocando em risco a vida de todos. Dois passageiros rapidamente conseguiram fechar a porta, evitando um acidente.
Outro momento de muita tensão foi quando eu e alguns repórteres fomos atacados por uma tribo da Amazônia. Eles nos perseguiram com bordunas (grandes porretes que os índios usam como cacetetes) e facões. Estavam completamente descontrolados, encarando-nos como inimigos. Felizmente conseguimos reverter a situação e ninguém saiu ferido.
 5) O maior defeito de um cinegrafista?
-  Ser irresponsável ao não checar o equipamento ( bateria, fita, testar a câmera) antes do trabalho, porque isso pode prejudicar toda a reportagem e fazer com que se perca um flagrante, por exemplo.
6) E de um repórter?
- É não colaborar para ter diálogo com o cinegrafista antes da reportagem, não discutir a matéria, não dar detalhes sobre, como e quem deve ser enfatizado nela; não ter espírito de equipe.
7) Câmeras modernas salvam cinegrafistas limitados?
- Sim, porém não o aprimora. A vivência com equipamentos variados  o torna um repórter cinematográfico e não apenas um câmera. Buscar mais conhecimento e a perfeição distingue um bom profissional dos demais.
8) O cinegrafista deve interferir na edição?
- Na maioria das vezes, interferir para dar a sua visão do fato e de como ele aconteceu, para a melhor transmissão da realidade.
9) Como a tecnologia está influenciando no papel do cinegrafista?
- É uma aliada do cinegrafista, pois a tecnologia dos equipamentos fornece a melhor eficácia da imagem e a rapidez no processo de edição e conclusão da matéria.
10) O que é mais importante no olhar do cinegrafista?
- O olhar de um cinegrafista de verdade, é o olhar que envolve tudo a sua volta, mostrando apenas uma imagem, que desvenda tudo nos detalhes; tem que ser sensível e criativo ao desvendar uma realidade, criticar uma situação.
11) Cinegrafista mulher tem espaço?
- Muito, como todos os demais. O que diferencia um profissional do outro é a vontade de ser o melhor, a disciplina e a eficiência, não o sexo.
12) Há diferença em trabalhar com repórter homem ou mulher?
- Nenhuma, em absoluto! A diferença está em ser um bom ou mau profissional.
13) Dica para cinegrafistas novatos:
- Um profissional só é completo quando faz o que realmente gosta; e no seu cotidiano, busca ser o melhor e transmitir sempre a verdade. Estudar muito os recursos e equipamentos com que trabalha, e sempre participar das reuniões de pauta sobre as reportagens. Isso é muito importante na hora de saber o que e como transmitir determinada imagem.
14) E para repórteres novatos:
- Esta resposta deixo para ti, Azeredo!
15) Qual o tipo de reportagem mais desafiadora?
 - É aquela em que tu não conheces a realidade do que vai filmar; aquela que te surpreende e te emociona – e estas são as mais prazerosas!
16) Como percebe o olhar dos editores e chefes de reportagem sobre o trabalho dos cinegrafistas?
- Em geral valorizam o profissional.  Acredito que eles reconhecem este profissional como o “veículo” que molda a imagem, que tem tato para absorver o melhor dela. Muitas vezes o cinegrafista trabalha junto aos editores e chefes de reportagem, enriquecendo o resultado final com o trabalho em equipe.
17) Cinegrafistas que fizeram história:
- Odone, Milton Cougo, Ricardo Nunes, Wilson Ferrari.
18) O telejornalismo mudou?
- A tecnologia engrandece o telejornalismo. Ao longo dos anos, equipamentos mais modernos, formas alternativas de apresentar reportagens e a experiência dos jornalistas em geral, fizeram com que a informação pudesse ser transmitida  com mais rapidez, agilidade e responsabilidade.
19) As emissoras de TV usam cada vez mais imagens de populares feitas com celulares e câmeras amadoras. Isso preocupa?
- É importante pra sociedade. A tecnologia é sem dúvida necessária. Um cinegrafista amador por exemplo, mostrará uma imagem inédita e que servirá também para informar ao mundo algum acontecimento. O  crescimento desta “classe” é inevitável. Porém, não desmerece de forma alguma o trabalho de um profissional habilitado para este ofício, pois quem o faz com categoria, sempre terá mercado de trabalho.


domingo, 13 de março de 2011

A LIÇÃO DE TREZZI NA LÍBIA

O repórter de ZH Humberto Trezzi não está na Líbia por acaso, ou por uma simples questão de escala. Está lá porque construiu uma sólida reputação de jornalista com amplos conhecimentos sobre conflitos, seus históricos e contextos.

Cobrir guerras ou outros conflitos que envolvem forças armadas, regulares ou não, exige um olhar apurado sobre todas as circunstâncias que envolvem o fato.

Conhecer bem o universo militar é essencial. Para descrever o calor de um combate e o horror dos impactos em tropas e civis, é preciso entender a aplicação e o efeito das armas. E também perceber a dinâmica e consequências das táticas - de exércitos ou de guerrilheiros.

É comum repórteres menos qualificados, nestes momentos, apelarem para narrativas excessivamente dramáticas ou personalistas. E , na falta de conhecimento específico, acabam temperando suas histórias com clichês de filmes de guerra e afins.

Para dar “clima” à matéria, detonam um bombardeio de informações fantasiosas sobre o efeito de determinado armamento, o poder inquestionável de tal tática, a supremacia do exército x,  a argúcia do general y, a malícia do líder guerrilheiro z...

E assim, estes profissionais acabam confirmando a máxima do senador republicano norte-americano Hiram Johnson, que em 1917 declarou: “a primeira vítima da guerra é a verdade.”

Trezzi está mostrando em ZH, de forma exemplar, como cobrir um conflito fazendo com que o olhar do repórter presente nos fatos seja uma lupa focada na melhor compreensão possível para o público.

Ao descrever o horror das bombas e granadas despejadas por Kadafi perto do comboio onde estava, Trezzi se manteve como observador, analítico e realista, por mais que as circunstâncias tenham transformando a ele e aos outros jornalistas ali em personagens daquele momento.

Trezzi também não se furtou a descrever seu medo no meio do bombardeio; mas o fez com equilíbrio, e em nenhum momento escorregou para o exibicionismo pseudo-heróico do tipo “as bombas voam sobre nossas cabeças, estamos entre a vida e a morte, mas temos que levar a matéria, blá, blá...”

Além de qualificar o jornal, as coberturas de Trezzi tem servido de referência pra outros repórteres que seguem o mesmo caminho, como Rodrigo Lopes.   

A cobertura de ZH na Líbia tem sido uma lição de jornalismo à altura de grandes nomes da imprensa brasileira, que se destacaram nestas situações, como William Waack e José Hamilton Ribeiro, entre outros.

quarta-feira, 9 de março de 2011

ARTESÃOS DE IMAGENS 2 - RICARDO NUNES

RICARDO NUNES é um dos repórteres cinematográficos gaúchos mais experientes e completos. Começou em 1976 como auxiliar de cinegrafista, ainda no tempo das câmeras com filme.
3 anos depois já era cinegrafista. Trabalhou na TV Difusora (hoje Band RS) e concorreu no Festival de Cinema de Gramado com uma produção em 16mm. Em São Paulo, atuou em produtoras de vídeo e nas redes Cultura, Manchete e Record. Em 91 voltou ao RS para trabalhar na RBSTV, onde além de cinegrafista foi chefe de operações do telejornalismo, instrutor de cinegrafistas e dos vídeo-repórteres que iniciaram as operações do Canal Rural. Conquistou vários prêmios de jornalismo, entre eles o cobiçado Prêmio Esso, em 85. Hoje atua no sul como repórter cinematográfico free-lancer para TV Cultura, Canal Rural, Globo News, Multishow e outros. Também trabalha com agências de publicidade e produtoras de cinema. Participou da produção de filmes como “Neto Perde a sua Alma” e “O general e o negrinho”.

1) A imagem mais difícil que já gravou:

- Foi em Osório, RS (1995) fazendo uma matéria para a RBSTV. Tive a oportunidade de salvar um jovem que ia se jogar de uma ponte na Free-way, e ainda consegui gravar tudo! Foi bem difícil!

2) O pior momento para um cinegrafista:

- É quando um flagrante se apresenta e o cinegrafista não está pronto para ele.

3) A imagem mais gratificante:

- A do rapaz de 22 anos que tentou se matar na ponte da Freeway. Ele se chamava Ricardo...

4) Maior perigo que já enfrentou trabalhando:

- Foi o episódio Dilonei Melara (fuga do Presídio Central em 94). A bala comendo solta e nós ainda querendo o melhor ângulo! Isso é perigoso, não?

5) Maior defeito de um cinegrafista:

- É a falta de detalhe. A imagem rica em detalhes justifica os créditos para o cinegrafista durante a matéria.





Lagoa do Peixe, Tavares, RS




6) E de um repórter?

- Da mesma forma, só que em relação a informação. Uma “barrigada” é muito feio...
                                                                               
7) Câmeras modernas salvam cinegrafistas limitados?

- Eu costumo dizer que é o câmera é que faz a câmera; o contrário não é verdadeiro.

8) Cinegrafista deve interferir na edição?

- Na hora de captar a matéria, já se deve pensar em um projeto de edição. Se for possível acompanhar a edição, melhor ainda. Assim evita-se frustrações no uso das melhores imagens.


A bordo no Navio Patrulha Benevente, da Marinha, que leva pinguins tratados de volta ao mar
9) Como a tecnologia está influenciando no papel do cinegrafista?

- Acho que positivamente, para aqueles que se dedicam em absorvê-la. Cursos de atualização deveriam ser obrigatórios nas emissoras, e são oferecidos pelos fabricantes na compra de equipamento novo, gratuitamente!

10) O que é mais importante no olhar do cinegrafista?

- Um olhar diferenciado, que vê as coisas como normalmente o telespectador não veria. O cinegrafista é o primeiro telespectador. Refinamento no olhar, ir a um museu, ficar olhando um bom quadro por alguns minutos, este é o nosso trabalho!
                                                                                                  Lagoa do Peixe, Tavares, RS
11) Cinegrafista mulher tem espaço?

- Tem sim, e muito!! Por falar em refinamento...

12) Há diferença em trabalhar com repórter homem ou mulher?

- Para mim não há! E ponto final, não quero ser preconceituoso!

13) Que peso o cinegrafista deve ter na construção da matéria?

- Pelo menos, 50%. Se repórter e cinegrafista forem pautados juntos pelo chefe de reportagem, acho que esta proporção tende a se manter na rua durante a realização da matéria.



Represa de Salto, fronteira Uruguai/Argentina

14) Dica para cinegrafistas novatos:

- A melhor imagem é aquela que eu ainda não vi!

15) Dica para repórteres novatos:

- Quando entrar ao vivo pela primeira vez, tenha em mente que as chances de acertar o texto são 50% de acertar e 50% de errar. O que é muito favorável, considerando-se que estamos ao vivo, e o improviso faz parte!!!

16) Qual o tipo de reportagem mais desafiadora?

- Sobretudo, as chamadas investigativas. Às vezes estamos com a polícia na nossa frente, como agentes de segurança, por exemplo. Outras vezes estamos atrás deles, vendo-os como agentes de corrupção, para denunciá-los. Isso para mim sempre é um desafio!

17) Como percebe o olhar dos editores e chefes de reportagem sobre o trabalho dos cinegrafistas?

- Às vezes penso que eles deveriam ir para a rua, junto com a gente, para entender o timing das coisas, em que velocidade as coisas acontecem e tudo o mais. E outra coisa: toda pauta deveria ter recomendação para o cinegrafista; dizer com todas as letras que tipo de enquadramento e abordagem se espera de cada matéria.




Os "Ricardos" no Navio Patrulha Benevente, Marinha do Brasil


18) Cinegrafistas que fizeram história:

- Falar de meus pais nesta profissão me dá muito orgulho, tive bons mestres que tinham prazer em ensinar, como Odone Silveira e Márcio Torres (hoje na Globo de São Paulo). “Deixa estar, tudo acontece na frente da lente” já dizia o saudoso Wilson Ferrari Jardim!!!! Estes e outros mais, influenciaram a minha maneira de fazer câmera.

19) O telejornalismo mudou?

- Mudou um pouco sim, acho que hoje ele é mais opinativo que nos anos 70 e 80, por exemplo. Mas isso não quer dizer que ficou pior ou melhor. Quer dizer que hoje formamos opinião com menos responsabilidade, pois tiramos do telespectador o poder de decidir como julgar os fatos.

20) As TVs usam cada vez mais imagens de populares com celular ou câmeras fotográficas. Isso preocupa?

- Sinceramente, de uma forma geral tenho certeza que não! No começo da minha carreira me diziam que minha profissão estava com os dias contados, que num futuro breve eu estaria desempregado; Pois se já se passaram trinta e cinco anos, e o que eu vejo, nas grandes redes de TV, seja nas matérias factuais ou investigativas como nas de produção jornalística (matérias de núcleo), o papel do Repórter Cinematográfico é cada vez mais importante!



quarta-feira, 2 de março de 2011

PRÊMIOS DE JORNALISMO: OS HIPÓCRITAS QUE TRABALHEM!

Quem não gosta de ver o seu trabalho reconhecido com um prêmio? Quem não gosta de ver a notinha no jornal falando da distinção, citando os nomes dos premiados e a matéria agraciada?

Pois há quem não goste. E esses são justamente os que nunca chegam lá -  porque são incompetentes, ou porque, mesmo trabalhando bem, nutrem um sentimento ranheta contra os prêmios de jornalismo e criticam aqueles que chamam de “caçadores de troféus”.

A nuvem de hipocrisia que cobre este assunto paira há muito tempo sobre a categoria. E muitas vezes inibe profissionais, iniciantes ou não, que produzem ótimas matérias, mas acabam sendo constrangidos pelos outros, que envenenam o ar da redação com comentários tipo “fazer matéria pensando em prêmio é coisa de repórter caça-níquel”.

Existem, claro, profissionais que ficam garimpando oportunidades de concorrer e, de olho na grana e na exposição, preparam matérias dirigidas, concebidas para agradar os que oferecem o prêmio, deixando de lado as regras do bom jornalismo.

Bom, aí é uma questão de consciência; e não há muito o que fazer.

Mas o que há de errado em pensar na produção de uma matéria focando determinado concurso, desde que o tema seja abordado com honestidade e seguindo os mandamentos básicos do nosso ofício?

Alguns concursos de reportagens são promovidos por setores da indústria, comércio ou áreas governamentais. Obviamente, isto estabelece o contexto da matéria.
Mas não decreta que ela deve ser uma exaltação ou um release disfarçado de reportagem. Se a matéria ficou assim, é porque o repórter ou editor assim o quiseram, e o fizeram por interesse. Bom, aí temos que dar razão aos que criticam os caça-prêmios.

Mas agir assim é, volto a dizer o óbvio, uma questão de consciência.

A cultura de conquistar prêmios de reportagem deve estar, sim, em cada redação, e deve se impor como meta! Porque não?
Que veículo de comunicação não orgulharia de ter uma equipe de jornalismo campeã de prêmios?

Cabe aos coordenadores planejar como isso deve ser colocado em prática, de forma que as equipes relatem as reportagens que podem ser enquadradas em determinado prêmio, e ainda, sugerir abordagens visando aquele concurso.

Fazer tudo isso com legitimidade jornalística é possível e obrigatório. E fazer de forma planificada, com cronograma de execução.
- Alô, turma do ódio: desde quando isso faz da redação um grupo de mercenários?

Bem, alguns preferirão a via mais fácil, a da bajulação, da matéria simpática, que faz vista grossa aos aspectos negativos do tema, para não “ferir suscetibilidades” e aumentar as chances de vitória no júri.

Mas uma redação dirigida por gente com caráter, discernimento e verdadeira noção profissional terá mecanismos para impedir que uma matéria nasça assim. Suas equipes pensarão da mesma forma, e o departamento saberá quando uma pauta ou matéria pronta merecerá a honra de representar o veículo num prêmio.

Portanto, repórteres - novatos ou não - editores e outros profissionais: não tenham medo de ganhar prêmios. Cuidem-se, isso sim, para não se deixar seduzir pelo canto de sereia da “fama”, e naufragar como jornalista.



terça-feira, 1 de março de 2011

A PASSAGEM: QUANDO O REPÓRTER MOSTRA QUEM É - 2

A passagem é o momento de exposição máxima do repórter numa cobertura de TV. É quando ele domina a tela, para dar uma informação relevante e costurar a narrativa.

Por incrível que pareça, muitos repórteres experientes sentem-se inseguros neste momento. Os novatos tremem, e muitas vezes desistem!
Alguns veteranos também!


Ricardo e Alexandre Pinho, litoral RS



Nem sempre isso acontece por causa do “clima” daquele instante (que pode ser tenso e até arriscado, conforme o ambiente), ou por dificuldade em dominar o tema abordado.

Isso tem muito a ver com a personalidade.

Muitos repórteres se consagram como grandes jornalistas de TV sem que nunca tenham se sentido totalmente à vontade na hora da passagem. Alguns revelam claramente, pelo semblante e pelo tom de voz, que estão desconfortáveis naquele momento.

Mas nem por isso a reportagem sai prejudicada. Um bom exemplo é o Pedro Bassan (foto), correspondente internacional da Rede Globo. Ele tem um texto primoroso, com uma abordagem sempre precisa e inspirada. No entanto, as passagens, geralmente bem curtas, evidenciam que ele se sente melhor longe do enquadramento da lente. E não há nada de errado nisso. Mesmo “duro” na passagem, Bassan dá o recado.   

Falar direto para uma câmera, sendo focado e tendo a preocupação de não errar uma sílaba, tira a naturalidade de qualquer um, em maior ou menor grau. É absolutamente normal, é da natureza humana.

O que faz alguns serem mais espontâneos nesta hora é exatamente o perfil de personalidade. Uma coisa nata. Tem gente que não dá a mínima para aquela lente a um metro e pouco do nariz; e outros que se sentem como se estivessem sob a mira ameaçadora de um telescópio apontado pelos olhos do mundo.

Morro da Igreja, Aparados da Serra, SC

Bom, quer dizer que repórteres mais extrovertidos rendem mais do que os acanhados? Nada disso.

O que define a qualidade de uma passagem é a escolha da informação, do local, oportunidade e enquadramento (decisão que deve ser tomada junto com o cinegrafista), e a atitude do repórter frente à câmera.

Não é necessário fazer caras e bocas, nem a tal “cara de conteúdo” para dar credibilidade a uma passagem. Ao contrário: performances excessivamente afetadas ou mesmo teatralizadas acabam tirando o foco da matéria, levando o telespectador a esquecer o assunto diante de um repórter que exagera na dose.  

Mesmo que o repórter seja meio tímido, ele pode fazer uma boa passagem apenas sendo ele mesmo (cuidando, claro, para não fazer cara de criança que fez travessura), tendo o cuidado de escolher uma informação consistente e fazer um texto direto, sem rodeios nem firulas de linguagem. E falar com segurança.


Jorge Goulart e Ricardo, Manobras internacionais da FAB em Passo Fundo,RS


Não é recomendável contrariar o seu jeito de ser. Repórteres que não tem naturalidade para fazer “brincadeiras”, como em passagens de matérias mais leves (e é muito comum na cobertura esportiva), devem evitar fazer performances que exijam um certo grau de desenvoltura ou mesmo teatralidade. Acaba virando caricatura.

Se o tema da matéria permite uma atuação, digamos, mais “soltinha” do repórter, e ele é do tipo mais contido, deve então ter muito cuidado para não bancar o bobo na passagem, evitando fazer gracinhas que só o deixarão falso, para não dizer ridículo.

Também não dá pra ser duro demais. O ponto de equilíbrio está na sensatez e na consciência de que o mais importante é contar bem a história, e não “atuar” frente à câmera.

No próximo texto: qual o tempo ideal para uma passagem?




Ricardo e Mário Vial, Córdoba, Argentina