terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Controlar conteúdo na web: necessidade ou utopia?

A discussão sobre os limites da internet ainda vai muito longe...
Governos como a China e Coréia do Norte bloqueiam o Google e aplicam torniquetes reais no mundo virtual; e para ficar só na América do Sul, Hugo Chaves tenta seguir o mesmo caminho na Venezuela.

Até no Brasil o assunto está sendo cogitado nos debates sobre os pretendidos Conselhos de Comunicação.

A newsletter Tambor da Aldeia, editada pela Associação Riograndense de Imprensa (ARI), relata que a direção do jornal Folha de São Paulo conseguiu na justiça tirar do ar o site "Falha de São Paulo", criado pelos irmãos jornalistas Lino e Mário Bocchinni para satirizar a cobertura do jornal. O pessoal da Folha argumenta que o layout do site debochado poderia confundir os leitores.
Para os autores da "Falha", é censura pura e simples.

Deixando um pouco de lado a questão digamos, editorial, o que chama atenção no episódio são as possibilidades de reação na infindável e imprevisível teia da web. Segundo o "Tambor", a retirada do site provocou imediatamente o surgimento de vários blogs seguindo a mesma linha da "Falha".

Ou seja, o cerceamento gerou um efeito multiplicador da origem da discussão.

E agora? Quem vai definir os limites no território nebuloso da liberdade de expressão? E isso é possível - ou desejável – nesta realidade onde qualquer com um notebook ou smartfone pode se converter numa trincheira na guerra da informação?

Tempos interessantes estes!
 

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

O DIPLOMA NÃO É TUDO!!

Ficou para 2011 a votação no Senado da Proposta de Emenda Constitucional (PEC 33/09) que trata da obrigatoriedade do diploma para exercício da função de jornalista. O placar da Fenaj que monitora o posicionamento dos parlamentares sobre o tema indica uma boa possibilidade de aprovação.

Mas deixando um pouco de lado a discussão sobre o valor do canudo, é preciso tocar num aspecto que transcende ao debate sobre o "mandato" conferido legitimamente pelo diploma.

A gurizada que está chegando ao final do curso e que, com toda razão, fica alarmada com a possibilidade de perder o motivo pelo qual estudaram (e pagaram) por 4 anos ou mais, tem que considerar que a formação técnica da universidade não é tudo. Muito menos garantia de emprego.

Insisto num aspecto fundamental: a formação individual. Algo mais profundo que a assimilação pura e simples de conceitos sobre a semiótica na comunicação, teorias sobre o papel social da imprensa e outros conceitos tipicamente acadêmicos.

Falo de fatores que farão a diferença na hora de batalhar um emprego ou se consolidar nele.

Tão importante quanto a formação técnica é ser um jornalista formado como cidadão, plenamente consciente da responsabilidade que esta missão traz.

Isto significa ter convicção do nosso papel, tendo noção clara do estrago que somos capazes de fazer quando agimos irresponsavelmente.
Significa também investir na base cultural, ser uma pessoa bem informada não só sobre as manchetes do dia, mas sobre as mais diversas áreas do conhecimento.

Fico assustado com a alienação que assola nossos futuros jornalistas. E fico ainda mais apavorado quando vejo que grande parte dos alunos em final de curso já está trabalhando, estagiando em assessorias de comunicação ou redações – quando não empregados mesmo. Ótimo que já tenham uma colocação. Mas temo pelo desempenho desta gente.

Como professor de jornalismo, eu costumava aplicar no início das aulas um teste de conhecimentos gerais e atualidades, valendo nota. Perguntava sobre tudo: os fatos mais importantes do momento e seus desdobramentos, quem escreveu tal livro, quem governa tal país, onde fica determinada nação, o que deflagrou tal guerra, o que significa uma teoria científica x, um conceito de economia y, e por aí vai.

O resultado geralmente era desastroso. Respostas absurdas, realmente desanimadoras. E concluí que a maior parte da gurizada nova que hoje ingressa na profissão está mais ligada em Big Brother, nos fuxicos e exibicionismos perpetrados no orkut, msn, tweeter e afins, do que nas capas dos jornais ou sites de notícias.

Nos fones de ouvido, só música (geralmente ruim) ou papos desmiolados em rodinhas de locutores das FMs, especializados em transformar qualquer tema num show de "comentários" ridículos, sustentandos com gargalhadas quase histéricas.

Outra falha dos futuros profissionais: ter um exemplar de boa literatura sempre à mão? Nem pensar...

O que me anima é que, ao discutir com aqueles mesmos alunos os resultados das provas, eles riam - mas ao mesmo tempo em que debochavam, constrangidos, da própria ignorância, iam aos poucos desenvolvendo um certo senso de autocrítica. E nas aulas seguintes revelavam novas atitudes, valorizando hábitos como a leitura diária dos jornais, assistir telejornais, ouvir noticiários no rádio, abrir sites de notícias, etc.

Por isso, aos recém chegados neste ofício, e aos que estão quase lá, insisto: o diploma não é tudo. Para quem vive no mundo da lua, é pouco mais que nada, num mercado cada vez mais competitivo.

 
 
 
 

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Péssimo precedente...Chaves ataca novamente!

A ofensiva da Assembléia Nacional venezuelana, ditando mais leis de controle sobre conteúdo nos meios de comunicação, inclusive a internet, é mais uma patacoada a assanhar os ideólogos de pseudo-esquerda que teimam em monitorar a imprensa, em todos os rincões da América Latina - inclusive no Brasil.

Aqui na terrinha estamos às voltas com a discussão acerca dos pretendidos Conselhos de Comunicação, em nível federal e estadual. Não se sabe até que ponto a aventura bolivariana pode inspirar os inquisidores tupiniquins da mídia, mas é preciso ficar de olho e não deixar o debate ficar na sombra, pois é aí que mora o perigo.


segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

WikiLeaks, a palavra da hora

Julian Assange. Este nome já é referência obrigatória no glossário da comunicação.
O cara que bolou o WikiLeaks, site especializado em divulgar documentos sigilosos de governos, criou um novo parâmetro de consulta para jornalistas do mundo todo.

Se até pouco tempo o WikiLeaks era território palmilhado apenas por jornalistas altamente especializados em assuntos de geopolítica e outros temas top secret, agora é fonte tão imprescindível quanto o Google. 

Para quem acha que os documentos desnudados alí só interessam à CNN, e que são distantes demais do nosso mundo, basta ver o que Assange revela agora sobre as opiniões do Zé Dirceu envolvendo Lula e outras articulações na Terra Brasilis. Coisas que nunca haviam sido divulgadas por aqui.

WikiLeaks. Coloque  nos seus favoritos.    

sábado, 18 de dezembro de 2010

TELEJORNALISMO: ONDE PESQUISAR?

Na faculdade, a maior parte da bibliografia que encontramos é de  obras muito acadêmicas, cheias de conceitos técnicos e filosóficos que muitas vezes estão distantes anos luz da realidade prática do  dia a dia deste nosso ofício.

Como professor de telejornalismo, preferi sempre recomendar livros de repórteres e outros profissionais com história consagrada. Poucas vezes indiquei teóricos da semiótica e outros campos tão subjetivos quanto pouco úteis.

Não há nada como a experiência. Melhor ainda quando é contada com habilidade por jornalistas que a viveram e escreveram com o intúito de  contribuir para o aprimoramento do jornalismo.

E falando em telejornalismo, onde o acervo de consulta não é lá grande coisa,  recomendo duas obras fundamentais: a primeira é o livro “Laowai” (Letras Brasileiras, 2008)  onde a excelente repórter Sonia Bridi, da Rede Globo, conta suas experiências como correspondente no extremo oriente. Texto maravilhoso, cativante, uma bela aula de telejornalismo.

Outra peça de estudo imprescindível é um DVD duplo que por mim substituiria a maior parte dos livros já escritos sobre telejornalismo no Brasil: “35 anos do Jornal Nacional” (Globo Vídeo, 2005), lançado junto com o livro do mesmo nome.

O DVD duplo traz séries e reportagens especiais fantásticas em várias etapas do telejornal, com seus melhores repórteres.
Nos extras, a gravação integral de uma “reunião de caixa”, quando William Bonner e seus editores conversam ao vivo com os editores das demais emissoras da rede, e decidem ali a cara que o jornal vai ter naquele dia.
Ainda há um documentário com vários depoimentos de editores, apresentadores, produtores, técnicos, cinegrafistas, etc, sobre como fazer o Jornal Nacional. 

Essas duas obras valem ouro pra quem trabalha em telejornalismo!

Dicas para focas (ou nem tanto...) - 4

A RELAÇÃO REPÓRTER X CINEGRAFISTA

A grande maioria dos cinegrafistas (ou câmeras, ou repórteres cinematográficos) não gosta de serem dirigidos durante as reportagens.  Principalmente os veteranos.
E porque? Porque os repórteres inexperientes (e produtores) geralmente não tem noção da arte de “filmar”. Não sabem escolher ângulos ou enquadramentos, não sabem considerar aspectos de iluminação e de composição do quadro. E também não imaginam as condições que um câmera precisa enfrentar para fazer determinado tipo de imagem.
O repórter acaba se baseando no olhar de pessoa comum, e não no olhar do sujeito que está com a lente, que é totalmente diferente.
E ao querer dirigir o câmera, pode azedar a relação e prejudicar a cobertura.

É comum surgirem atritos porque o repórter quer escolher cada ângulo e movimento, como se o câmera precisasse ser orientado.
Isso não significa que o câmera faz o que bem entende.

O correto é, antes de sair pra fazer a matéria, discutir bem a pauta com ele, passar todas as informações para que ele já vá pensando no que fazer, e possa sugerir idéias para a abordagem, antes mesmo de chegar ao local. E, chegando lá, fazer uma avaliação conjunta do que estão vendo.

O repórter só deve interferir quando percebe que o câmera não viu algo importante que deve ser gravado; ou então quando quer aplicar na narrativa alguma figura de linguagem, metáfora, etc, que necessite de uma imagem específica.

NUNCA DESCONSIDERE A OPINIÃO DO CINEGRAFISTA, ANTES,  DURANTE OU DEPOIS DA GRAVAÇÃO!!
                                    
 A formação de um repórter na prática está diretamente ligada à experiência que ele adquire junto aos câmeras. É preciso vê-los como jornalistas, e não operadores.
Repórter que vê o cinegrafista apenas como um mero “apertador de botão” está condenado à mediocridade.
E jamais esqueça: existe matéria de TV sem repórter, mas não existe sem cinegrafista!



terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Dicas para focas (ou nem tanto...) - 2

Entrevistando em momentos críticos

A derrota do Inter em Abu Dhabi me lembrou um episódio recente que registrei na memória por ser um bom exemplo de postura adequada dos repórteres na hora de entrevistar os personagens envolvidos nestes momentos digamos, dramáticos.

Na derrota do Brasil para a Holanda, na última copa, que deixou o país apatetado, o repórter Tino Marcos, da TV Globo, minutos após o fim do jogo, foi entrevistar o goleiro Júlio César. Entrada ao vivo, com todo o nervosismo que isso traz. O atleta estava visivelmente abalado. Tenso, trêmulo, não conseguia tirar as luvas.

Diante da câmera, era a imagem da frustração que refletia o sentimento dos brasileiros. Bem, nesta hora, muitos repórteres, ávidos pela cobrança, poderiam ceder à tentação de abater a presa ferida de morte e massacrar com perguntas do tipo "Porque a seleção foi tão mal? O que deu errado? Como você tomou aquele gol??".

Mas Tino Marcos, experiente e acima de tudo, com classe e respeito, antes de dizer qualquer coisa, aproveitou os segundos de desespero do goleiro que tentava atrapalhadamente tirar as luvas ante as câmeras ao vivo, e se dirigiu ao atleta com um tom quase paternal: " Antes de mais nada eu queria agradecer ao goleiro Júlio Cesar por nos dar esta entrevista num momento tão difícil...". A partir daí, a entrevista fluiu, do jeito que poderia fluir naquele momento.

São atitudes como esta que fazem toda a diferença entre repórteres. Somos sim perguntadores, cobradores, insistentes e agudos; é do nosso ofício. Mas isso não nos dá o direito ilimitado de agir como inquisidores ferozes para extrair respostas a qualquer custo. Uma boa entrevista não depende de transformar microfone ou caneta em chicote.    

Em tempo: versátil, Tino Marcus já se aventura fora da cobertura esportiva: gravou um magnífico Globo Repórter em Galápagos.   

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Dicas para focas (ou nem tanto...) - 1

Inspirando-se no “ídolo”

Em qualquer atividade, os profissionais tem as suas referências, os “ídolos” daquele trabalho. No jornalismo não é diferente. Quem não lembra de figuras  que admirávamos no tempo da faculdade (ou mesmo antes) e pensávamos: “Um dia vou fazer matérias como este cara!”.
Mesmo os jornalistas veteranos, embora muitos não assumam, têm os seus heróis do ofício.

Não há nada de errado no ato de um jornalista iniciante eleger um determinado profissional (ou vários) que admira, e “copiar” o estilo. Claro que é desejável um mínimo de sutileza para não parecer imitação pura e simples. Mas tentar fazer igual – ou quase - ao ídolo é uma maneira de calibrar o estilo, que aos poucos, naturalmente, vai ganhar características próprias. O tempo, a prática, os traços de personalidade e a base cultural vão definir o jeito de cada um.
Portanto, seja você recém formado, ou com 20 anos de profissão, não se envergonhe de querer fazer uma matéria tal como aquele cara que você admira tanto. Basta lembrar que você é você, e que você quer ser tão bom quanto o “ídolo”. Só não esqueça que inspiração não é imitação.

domingo, 12 de dezembro de 2010

AR-15 ou arcabuz? O público que se vire...

A guerra urbana no RJ e o conseqüente bombardeio na mídia dos acontecimentos nos morros cariocas trouxe mais uma vez uma discussão que insisto há muito tempo com meus alunos e colegas: a necessidade de entender minimamente de armamentos.

Dizer que isso é coisa de militar ou policial, e que para o povão tanto faz dizer fuzil ou metralhadora é uma grande irresponsabilidade.
A grande maioria dos coleginhas trata o tema com visão tacanha, adestrada pelos filmes de guerra ou seriados policiais. Um festival de lugares comuns e absurdos.
Não se pode subestimar a inteligência do público achando que basta dramatizar o noticiário supervalorizando o poder de destruição de certas armas, sem explicar para que elas realmente servem. Isso faz toda diferença na hora de dizer a verdade.

Muitas das armas apreendidas com o tráfico são peças de museu para as quais nem se fabrica mais peças ou munição. Mas repórteres afoitos se impressionam e logo transformam sucatas bélicas em armas poderosíssimas capazes de derrubar helicópteros.
Claro que os traficantes também conseguem armamento moderno, mas isso é raro. E aí ficamos naquelas coisas vagas do “armamento pesado” (o que é isso afinal?), “armamento de guerra”, e outras expressões banais e inconsistentes.  
Hoje o menu de qualquer vídeo game de combate traz uma  gama de armamentos que reproduz fielmente os manuais dos fabricantes. Ou seja, a gurizada adolescente sabe muito mais do que a maioria dos jornalistas que cobre as ações policiais.

Está na hora de fazer mais jornalismo e menos filminho nas coberturas policiais. Jornalistas precisam estudar melhor o assunto, assim como os veículos deveriam se preocupar em trazer especialistas para atualizar suas equipes.

Indispensável para estudantes e veteranos do jornalismo!

Nestes tempos de informação frenética, de textos quase monossilábicos e ainda cheios de abreviaturas.com, manter uma cultura geral calibrada faz toda a diferença, tanto para os focas quanto para os índios velhos do ofício. E conhecer a nossa história, remota e recente, é fundamental. 

Para não se perder na linha do tempo, nada como uma obra que resuma os principais momentos da Terra Brasilis, desde a hora em que Pedro Alvares Cabral se lançou ao mar até os dias de hoje. Melhor ainda quando tudo isso vem num texto magistralmente bem escrito, objetivo e ainda bem humorado. Por isso recomendo a todos a edição revisada e ampliada do livro do Eduardo Bueno, o nosso Peninha, "Brasil: Uma História - Cinco séculos de um país em construção"(Ed.Leya, 2010) . Uma leitura deliciosa, que além da vasta informação histórica ainda traz o olhar irônico, sarcástico e agudo do autor.  Imperdível

Conselhos e Conselhões...

O PT planeja, em nível federal e estadual, implantar conselhos para definir meios de regular a mídia. Concordo que é preciso frear a exibição de conteúdos que exploram a sexualidade e valores questionáveis em horários de exibição em que toda a familia está à frente da TV. Exigir isso não é ser conservador nem moralista.

A TV é o principal meio de informação e entretenimento dos brasileiros, e influencia dramaticamente o pensamento coletivo. Mas, por outro lado, estabelecer critérios de monitoramento de conteúdo jornalistico já é uma história bem diferente.

Os mentores destas propostas de controle da mídia dizem que não se trata de censura, porque a análise do conteúdo será posterior à exibição. Ora, isso nada mais é do que pendurar a tal espada de Dâmocles sobre a cabeça de cada jornalista. Ou seja, é como se os "Conselheiros" avisassem: "Quer publicar, publica; mas depois não reclama!" Isso cria naturalmente um ambiente de intimidação, que acaba estimulando a auto-censura.

As regras ainda não estão claras, mas desde já é preciso que toda a sociedade esteja bem alerta. E nós, jornalistas, radialistas e outros seres da comunicação, precisamos examinar tudo isso com lupa de detetive para não cair em engodos pseudo-democráticos que podem ser cavalos de Tróia recheados de intenções totalitárias.  

sábado, 11 de dezembro de 2010

O Estado precisa de emissoras educativas?

Esta pergunta deverá ser considerada pelo próximo governo, ao definir os rumos da Fundação Cultural Piratini, que envolve a TVE e a rádio FM Cultura.

Veículos de comunicação têm características muito específicas, com uma dinâmica de operações e pessoal bem diferente do padrão da maioria dos órgãos públicos. Produção de programas de tv e rádio, e principalmente cobertura jornalística são operações caras, grandes geradores de diárias, horas extras, gastos com viagens, adicionais noturnos, etc. E exigem enorme estrutura tecnológica e profissionais com qualificação específica.

A TVE e a FM Cultura sobrevivem às custas do Estado. Impedidas por estatuto de gerar receita com seus produtos e assim bancar suas operações e salários (como fazem as emissoras comerciais), as duas dependem dos cofres públicos para se manter no ar. Hoje a folha de pessoal com os 200 servidores da TV e da FM consome praticamente 90% da receita mensal. O que sobra mal cobre as despesas correntes. Como investir em estrutura num ambiente tão limitador?

A única saída é um novo modelo, que permita geração de recursos a partir da sua própria produção e que garanta mínima independência financeira.
Com tantas urgências nas áreas de saúde, segurança, habitação e estrutura, não se pode exigir que veículos públicos de comunicação sejam prioridade. Mas se pode criar condições para que andem com as próprias pernas.

A atual gestão provou que é possível tornar TVE e a FM cultura mais competitivas e ampliar a programação com qualidade.

Racionalizando a estrutura, reorganizando pessoal e atraindo parceiros privados, conseguimos fazer da TVE a emissora gaúcha com maior produção própria. Acrescentamos à grade 13 novos programas, entre produções próprias e independentes. Em outubro de 2009 chegamos a 67% de produção local, o que nunca havia acontecido.

Buscando parcerias com o Poder Judiciário, reequipamos as redações da TV e da FM com computadores mais modernos, substituímos a mobília sucateada e instalamos aparelhos de ar condicionado melhores. A rádio ganhou um novo estúdio. As parcerias possibilitaram também a instalação da nova antena, que trouxe maior e melhor alcance do sinal da TVE.

A reorganização administrativa derrubou a média mensal de horas extras: no início do Governo, era 3,5 mil. Hoje é 200. Renegociações intensas com fornecedores equalizaram as dívidas e equilibraram as contas.

Mas é preciso fazer muito mais. É preciso repensar toda a Fundação Cultural Piratini.

Criar um modelo que elimine as distorções funcionais que acarretam graves passivos trabalhistas e engessam as operações. Permitir que as emissoras gerem recursos participando do mercado sem serem escravizadas por ele. E nunca abrir mão da programação voltada para a informação, a cultura e nossos valores. TVE e FM Cultura devem investir cada vez mais na prestação de serviços ao cidadão, uma obrigação com a sociedade.

Uma decisão judicial no final deste ano (mais uma de tantas) obrigou a Fundação a exonerar 19 profissionais (cargos em comissão, os CCs) em funções técnicas, o que provocou um corte drástico na programação. Outro sinal claro de que é preciso rever este modelo. Mas que seja uma discussão técnica e realista, evitando critérios partidários, ideológicos ou pseudo-acadêmicos, e valorizando o que a sociedade realmente merece de uma emissora pública.