Parindo a Pauta! Criar - e brigar - é fundamental!
A figura do pauteiro é essencial em qualquer redação. Além de monitorar os factuais que não podem deixar de ser acompanhados pelo veículo, ele tem que criar.
E é aí que se faz a diferença: bolar pautas exclusivas, fruto da perspicácia, conhecimento, e do olhar atento que vai além do dia a dia.
Mas repórter que se preza não deve chegar sempre na redação com a cabeça vazia de idéias, acomodado com o hábito de receber a pauta pronta.
Ok, na maioria das vezes, as missões já estão definidas no início do turno pelos editores e chefes de reportagem. A pauta factual do dia normalmente ocupa todas as equipes.
Mas veículos que prezam coberturas diferenciadas e apostam no potencial dos repórteres sempre encontram um espaço para novas idéias.
É a hora do repórter dizer a que veio.
Repórter que chega com uma boa idéia para propor já está à frente dos demais.
O ideal é desenvolver um mecanismo pessoal de criação, estimular o hábito de estar sempre pensando em alguma nova abordagem, seja qual for o tema.
Todo assunto pode ser uma boa pauta.
O repórter não pode ter receio de deixar a imaginação voar. Não pode fechar os olhos para o que está ao redor, não pode menosprezar conceitos só porque ele imagina que na redação os chefes não vão topar.
Brigar por suas idéias é fundamental.
Só não pode, claro, brigar com a realidade. O repórter faz parte de uma equipe. Se o dia está tomado por factuais importantes, não adianta bater pé numa pauta que pode esperar, mesmo que seja uma bela idéia.
Mas insisto: brigar e tentar convencer os superiores é essencial e absolutamente legítimo.
Ilustro com uma experiência pessoal:
Em 1993, a discussão sobre aquecimento global estava começando a crescer. Eu era repórter da RBSTV. Pensei: tenho que fazer uma matéria na Antártica. O Brasil está lá e os gaúchos foram pioneiros na exploração.
Eu sabia que não seria nada fácil. Era uma pauta de logistica extremamente difícil, e especialmente cara. Ainda mais para uma emissora regional. Eu ainda não era correspondente da Rede Globo.
Mas comprei a briga. Sozinho.
Sabendo que dificilmente teria sinal verde dos meus chefes para iniciar a produção, resolvi produzir toda a pauta por conta própria. Levantei os contatos, e comecei a negociar com a Marinha, responsável pela operação do Programa Antártico Brasileiro.
Fiz toda a tramitação em nome da emissora, sem que ninguém soubesse. Foram seis meses de ofícios e telefonemas. E ao mesmo tempo pesquisava fontes, preparava material de campo.
Quando finalmente a Marinha autorizou a participação numa das expedições, me preparei para convencer os chefes. Eu sabia que a autorização não seria suficiente. Tratei então de garantir apoio “Global”.
Com apoio da colega Celina Carvalho, editora local do Núcleo Globo, ofereci a pauta para o Fantástico.
Eles toparam na hora.
Então fui falar com o então chefe do departamento de telejornalismo, Roberto Appel, um grande jornalista.
Foi uma discussão forte, em que ele argumentava que a operação era complicada demais, e que não iria autorizar. Eu disse então que a Globo já estava esperando a matéria.
Embarquei num avião da FAB com o repórter cinematográfico Edison Silva e o operador Umberto Durand. Fomos para a Antártica no auge do inverno, pior período para fazer matérias no lugar mais gelado do planeta.
Mas era a única chance que tínhamos.
Valeu ou não valeu a pena brigar?
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