quarta-feira, 25 de abril de 2012

REPÓRTERES CINEMATOGRÁFICOS - GLAUCIUS OLIVEIRA

GLAUCIUS OLIVEIRA é jornalista formado pela Feevale, e cursa pós-graduação em jornalismo e convergência de mídias. Começou em 1995 na TV Cidade Canal 20, de Pelotas, como repórter cinematográfico. Atuou depois na RBSTV Pelotas, até se transferir para Novo Hamburgo, onde cursou a universidade. Fez trabalho de conclusão de curso abordando a importância do repórter cinematográfico na produção televisiva.  Na TV Feevale, emissora universitária afiliada à TV Cultura/SP, Glaucius atua como repórter cinematográfico e também como editor e diretor de imagens. Também dá aulas práticas de telejornalismo.  
Desde 2010, é repórter cinematográfico na Band RS, de Porto Alegre. Em 2011, conquistou o Prêmio ARI - Associação Riograndense de Imprensa. 




 
1)     O cinegrafista deve interferir na edição?

Sempre estar acompanhando todos os processos. Isso às vezes não acontece devido à correria do dia-a-dia. A edição é importante para a boa execução da reportagem e o cinegrafista, que esteve no local, sabe como ninguém o que é mais importante na hora da finalização - junto com o repórter, é claro.

2)     Como a tecnologia está influenciando no papel do cinegrafista?

Muito! O cinegrafista tem que estar pronto as mudanças tecnológicas todos dos dias. A reciclagem é muito importante para que ele se destaque e possa desempenhar tarefas que agreguem valor a seu trabalho!! Quem não estiver disposto a mudar e conhecer os novos formatos estará fora do mercado em pouco tempo.

3)     O que é mais importante no olhar do cinegrafista?

O olhar apurado e principalmente a visão periférica, que faz com que ele mostre a realidade bem próxima do real. Essa é para mim a principal qualidade do profissional da imagem.

4)     Cinegrafista mulher tem espaço?

Com certeza, acho que o papel da mulher é importante em todas as profissões. Ela esta cada vez mais nos ambientes digamos, só para homens. Hoje não temos mais isso. E não seria diferente na TV. As mulheres tem uma visão diferenciada do todo. E claro que isso, na imagem, faz muita diferença.

5)     Há diferença em trabalhar com repórter homem ou mulher?

Não vejo diferença alguma. O bom cinegrafista deve estar preparado para qualquer profissional.

6)     Que peso o cinegrafista deve ter na construção da reportagem?
Deve dividir a responsabilidade com o repórter, ter o mesmo peso. Não deve se eximir de nada. Deve sim acompanhar todos os processos.

7)     Dica para cinegrafistas novatos:

Primeira e única dica, gostar do que faz. Se não gosta, esquece! Muda de profissão!

8)     E para repórteres novatos:

Ter a percepção que ele não está sozinho, e que a reportagem que está executando é de responsabilidade dele e do cinegrafista que o acompanha.

9)     Qual o tipo de reportagem mais desafiadora?

As que ajudam as pessoas de alguma maneira. Acho que o papel social dos jornalistas é de extrema importância.

10)   Como percebe o olhar dos editores e chefes de reportagem sobre o trabalho dos cinegrafistas?

Em todas as profissões temos aqueles que entendem ou não. No telejornalismo não seria diferente. Precisamos ter mais diálogo entre todos que fazem parte dos processos. O cinegrafista tem que dialogar mais com as chefias, e não apenas chegar com problemas, arrumar soluções e fazer parte do dia-a-dia das redações.

11)   Cinegrafistas que fizeram história:

Para mim, um grande cinegrafista para mim é o Paulo Zero (Rede Globo), grande jornalista premiado, que conhece como ninguém os processos televisivos.

12)   O telejornalismo mudou?
Mudou muito e vive um momento complicado. Acho que precisamos rever vários processos que o telejornalismo vem passando. Mudanças são necessárias, e estou muito preocupado com o rumo que o jornalismo televisivo está tomando.

20)  As emissoras de tv usam cada vez mais imagens de populares feitas com celulares e cãmeras amadoras. Isso preocupa?
            
A qualidade da produção factual de jornalismo de TV vem caindo assustadoramente. A visão que se tem é que qualquer coisa vale. Precisamos sim, dar a noticia; mas isso não quer dizer que temos que colocar qualquer coisa no ar, na busca desenfreada pela audiência. Precisamos ter cuidado e ver o quanto estamos prostituindo a imagem. Televisão é imagem, e de qualidade. Rever os processos é preciso!




segunda-feira, 2 de abril de 2012

CAMINHANDO, CANTANDO E REPETINDO A CANÇÃO...

Já se vão 48 anos desde o primeiro dia daquele período que se convencionou chamar de “Anos de chumbo” .

Foram 20 anos de domínio dos militares no comando do país.

O Golpe de 64 instaurou no país uma ditadura de farda que, como toda ditadura, trouxe imposições severas à nação, a começar pelas restrições à liberdade de imprensa e de manifestações públicas contra o “regime”.

Ao longo deste tempo, o garrote proporcionou fases de sufoco torturante e outros mais, digamos, complacentes, conforme os humores do general-presidente e seu Estado-Maior, acomodados em Brasilia naquele momento.

Ninguém discute que houve excessos em nome de uma pretensa proteção da pátria.

Gente foi torturada e morta nos calabouços dos quartéis e delegacias.
A censura contra a imprensa, a arte e várias formas de expressão foi inclemente.
Os algozes mais ainda.

Por outro lado, grupos de ativistas pela volta da democracia fustigaram os militares, na tentativa de provocar fissuras que permitissem derrubar o muro do regime autoritário.

As escaramuças, antes legítimas pela intenção, passaram a flertar e agir muitas vezes como puro ato de terrorismo.

Com a frieza e a inconseqüência que está na natureza deste tipo de ação.

No clima da Guerra Fria, utopias turvaram pensamentos e orientaram ações afoitas e mortais na caserna e entre os grupos guerrilheiros. 

Os dois lados abusaram da violência.

Gente inocente foi morta por ambos, em maior ou menor proporção - o que não exime ninguém de culpa.

Em 1985, depois de um período classificado como “distensão” ou “abertura lenta e gradual”, aconteceram as eleições, ainda indiretas, mas que, bem ou mal, permitiram a volta dos civis ao comando da nação.

Era como se o país estivesse nascendo de novo.

Hoje, por estes dias em que o “golpe” faz aniversário (31 de março ou 1º. de abril - a data varia conforme os historiadores), o assunto, que está sempre pairando sobre nossas cabeças, mesmo quase três décadas depois, ganha novo fôlego.

Mas, como em toda nação imatura, o que turbina os debates é, invariavelmente, o clima de revanche.
E voltamos a remoer o passado, enaltecendo mártires e execrando carrascos.

Discussões acaloradas focam na punição dos militares que excederam os limites do dever. Ou o distorceram, e em nome disso cometeram crimes.
E no meio disso tudo, uma certa aura de romantismo libertário atenua ou mesmo perdoa os excessos cometidos pelos militantes “de esquerda”, que também seqüestraram, torturaram e mataram, escudando-se na luta pela democracia.

É uma discussão interminável.

Até que ponto devemos dedicar tanta paixão a este debate, quase meio século depois do início da quartelada de 64?

Porque temos tanta necessidade de chafurdar revolver este tema, como se precisássemos ter uma história épica de revolução para nos orgulhar diante do mundo, agora e daqui a 100 anos?

Precisamos tanto assim de uma Bastilha para nos vangloriar da capacidade de levante popular?

Se há quase 30 anos os militares deixavam o poder, hoje o que temos é uma classe política que ainda não honrou a vitória que a nação obteve quando a tropa deixou o Planalto para voltar aos quartéis.

Desde então, temos visto descalabros no Congresso e na administração pública em geral, que nos maculam perante o mundo muito mais do que o período militar.
Exemplos deploráveis que contaminam as novas gerações.

Desmandos, conluios, hipocrisias criminosas, assaltos à nação que, mais do que bilhões surrupiados em dinheiro, continuam a consolidar uma cultura de leniência com o “toma lá, dá cá”, de resignação com uma estrutura viciada que não se conserta nunca e só piora, com a máquina pública que só consome impostos e vira as costas para a nação. 

Nossa imagem negativa mundo afora, mesmo com todos os ufanismos turbinados pela Era Lula (coisa que a esquerda sempre criticava no regime militar, como a grandiloqüência delirante do “Milagre Brasileiro”), não muda com expressões do tipo “Nunca na história deste país...”

Está na hora de dar menos paixão às discussões embaladas por canções de Geraldo Vandré e tratar de agir com mais firmeza para mudar o aqui e agora - essa sim, a atitude que vai fazer alguma diferença no nosso presente e no nosso futuro.

Está na hora de discutir pra valer a reforma política, que nunca vai acontecer se deixarmos este trabalho para a classe política.

O mesmo vale para a reforma tributária.

Isso sim fará diferença nas nossas vidas, e não um tribunal de inquisição permanente para exorcizar o passado.

Muitos dirão que isso é escapismo, cumplicidade, tolerância com ditadores, etc.

A patrulha não descansa, como se não tivesse mais o que fazer pelo país.

No dia em que toda esta energia for canalizada para tratar do presente, aí sim talvez tenhamos alguma chance de mostrar ao mundo e aos nossos filhos e netos, que fomos suficientemente maduros para construir centenas de eficientes hospitais públicos, escolas e universidades bem estruturadas.

E que só depois disso nos preocuparemos em sediar copas do mundo e olimpíadas.