“Mak tub”, ou “estava escrito”, diz o milenar adágio árabe para descrever situações que o destino já previa.
Mas, se durante este tempo todo havia muito de resignação nestes dizeres, os fatos de hoje já sugerem uma releitura.
Para nós, jornalistas, é essencial aproveitar o momento para exercitar um olhar mais apurado sobre a parte do mundo que envolve o norte da África e o sempre conturbado Oriente Médio - que para boa parte da categoria ainda é um universo cheio de mistérios, e pior ainda, saturado de preconceitos, estereótipos e outras distorções.
A força da mídia ocidental colaborou muito para que tivéssemos uma visão fantasiosa e negativa sobre os muçulmanos e seu modo de vida.
Quantos não imaginam que a população do norte da África é composta basicamente por tribos de negros reluzentes e cheios de adornos como os zulus?
Egito, Líbia, Marrocos e outros países da região são bem diferentes do que alguns imaginam.
Muitos dos profissionais de hoje estavam terminando o colégio e se preparando para entrar na faculdade quando os aviões derrubaram as torres gêmeas.
Entraram no mundo acadêmico contaminados pela histeria mundial disseminada pela mídia global contra os muçulmanos, diante da barbárie realmente inominável dos atentados.
Esta geração, que cresceu doutrinada pelos games e a web, acompanhou pela TV os bombardeios-show no Iraque e no Afeganistão.
As duas guerras do Golfo ganharam a aura de uma nova Cruzada. Ou seja, mil anos depois, o “mundo civilizado” novamente precisava dar uma lição nos bárbaros do deserto, aquela gente que acha o máximo morrer e matar o maior número de pessoas ao redor, só para ganhar o paraíso...
Os novos ventos que sopram no Oriente Médio e no norte da África precisam ser percebidos pelos jornalistas mais jovens. Mais que isso, precisam ser interpretados com espírito desarmado. E à luz do conhecimento e da sensatez, para que saibamos divulgar estas mudanças com a responsabilidade que a nossa missão exige.
Vejamos então: o Irã, em que pese a mão de ferro do baixinho atômico Ahmadinejad, já experimentou nos últimos tempos manifestações populares antes impensáveis. O Iraque, apesar da tutela dos EUA, tenta se reorganizar como nação, e criar um arremedo de democracia. No Afeganistão, também sob a batuta do Tio Sam, a cratera é mais embaixo, mas mesmo com os Talebãs insistindo em ficar na Idade Média, a tendência a longo prazo é de mais flexibilidade.
A questão palestina hoje também ganha, entre uma Intifada e outra (ei rapaziada foca, sabem o que é isso?), mais espaço para negociação.
Mubarak levou a maior pressão dos egípcios nos últimos dias, e renunciou quando viu que a situação era insustentável e era preciso arejar a nação.
Nada disso teria acontecido se a população, encorajada pela mobilização popular que acabou com os 40 anos de jogo duro de Bem Ali na Tunísia há poucas semanas, não tivesse ido às ruas cheia de fome por liberdade, emprego e democracia.
Muita coisa ainda vai mudar por lá, coleguinhas. E é preciso estar atento, não apenas para contar vítimas de homens-bomba e saber pistas do paradeiro do Bin Laden.
Mak tub!
Ricardo, concordo plenamente. Com tatno acesso à informação, não há mais espaço para velhos e mofados esteriótipos. Alaikum As-Salaam prá ti.
ResponderExcluirPois é Tanira, esta gurizada (e mesmo alguns veteranos conservadores) precisa se vacinar contra o maniqueísmo e ver o mundo como ele é! Bjo!
ResponderExcluirRicardo muito bom teu blog, gostaria de lembrar que o primeiro reporter cinematografico que presidiu a ARFOC-RS foi o grande LUIS QUILIÃO, que hoje esta na GLOBO RJ. Um grande abraço . altair rother.
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