RICARDO NUNES é um dos repórteres cinematográficos gaúchos mais experientes e completos. Começou em 1976 como auxiliar de cinegrafista, ainda no tempo das câmeras com filme.
3 anos depois já era cinegrafista. Trabalhou na TV Difusora (hoje Band RS) e concorreu no Festival de Cinema de Gramado com uma produção em 16mm. Em São Paulo , atuou em produtoras de vídeo e nas redes Cultura, Manchete e Record. Em 91 voltou ao RS para trabalhar na RBSTV, onde além de cinegrafista foi chefe de operações do telejornalismo, instrutor de cinegrafistas e dos vídeo-repórteres que iniciaram as operações do Canal Rural. Conquistou vários prêmios de jornalismo, entre eles o cobiçado Prêmio Esso, em 85. Hoje atua no sul como repórter cinematográfico free-lancer para TV Cultura, Canal Rural, Globo News, Multishow e outros. Também trabalha com agências de publicidade e produtoras de cinema. Participou da produção de filmes como “Neto Perde a sua Alma” e “O general e o negrinho”.
1) A imagem mais difícil que já gravou:
- Foi em Osório, RS (1995) fazendo uma matéria para a RBSTV. Tive a oportunidade de salvar um jovem que ia se jogar de uma ponte na Free-way, e ainda consegui gravar tudo! Foi bem difícil!
2) O pior momento para um cinegrafista:
- É quando um flagrante se apresenta e o cinegrafista não está pronto para ele.
3) A imagem mais gratificante:
- A do rapaz de 22 anos que tentou se matar na ponte da Freeway. Ele se chamava Ricardo...
4) Maior perigo que já enfrentou trabalhando:
- Foi o episódio Dilonei Melara (fuga do Presídio Central em 94). A bala comendo solta e nós ainda querendo o melhor ângulo! Isso é perigoso, não?
5) Maior defeito de um cinegrafista:
Lagoa do Peixe, Tavares, RS
6) E de um repórter?
- Da mesma forma, só que em relação a informação. Uma “barrigada” é muito feio...
7) Câmeras modernas salvam cinegrafistas limitados?
- Eu costumo dizer que é o câmera é que faz a câmera; o contrário não é verdadeiro.
8) Cinegrafista deve interferir na edição?
A bordo no Navio Patrulha Benevente, da Marinha, que leva pinguins tratados de volta ao mar
9) Como a tecnologia está influenciando no papel do cinegrafista?
- Acho que positivamente, para aqueles que se dedicam em absorvê-la. Cursos de atualização deveriam ser obrigatórios nas emissoras, e são oferecidos pelos fabricantes na compra de equipamento novo, gratuitamente!
10) O que é mais importante no olhar do cinegrafista?
Lagoa do Peixe, Tavares, RS
11) Cinegrafista mulher tem espaço?
- Tem sim, e muito!! Por falar em refinamento...
12) Há diferença em trabalhar com repórter homem ou mulher?
- Para mim não há! E ponto final, não quero ser preconceituoso!
13) Que peso o cinegrafista deve ter na construção da matéria?
Represa de Salto, fronteira Uruguai/Argentina
14) Dica para cinegrafistas novatos:
- A melhor imagem é aquela que eu ainda não vi!
15) Dica para repórteres novatos:
- Quando entrar ao vivo pela primeira vez, tenha em mente que as chances de acertar o texto são 50% de acertar e 50% de errar. O que é muito favorável, considerando-se que estamos ao vivo, e o improviso faz parte!!!
16) Qual o tipo de reportagem mais desafiadora?
- Sobretudo, as chamadas investigativas. Às vezes estamos com a polícia na nossa frente, como agentes de segurança, por exemplo. Outras vezes estamos atrás deles, vendo-os como agentes de corrupção, para denunciá-los. Isso para mim sempre é um desafio!
17) Como percebe o olhar dos editores e chefes de reportagem sobre o trabalho dos cinegrafistas?
- Às vezes penso que eles deveriam ir para a rua, junto com a gente, para entender o timing das coisas, em que velocidade as coisas acontecem e tudo o mais. E outra coisa: toda pauta deveria ter recomendação para o cinegrafista; dizer com todas as letras que tipo de enquadramento e abordagem se espera de cada matéria.
Os "Ricardos" no Navio Patrulha Benevente, Marinha do Brasil
18) Cinegrafistas que fizeram história:
- Falar de meus pais nesta profissão me dá muito orgulho, tive bons mestres que tinham prazer em ensinar, como Odone Silveira e Márcio Torres (hoje na Globo de São Paulo). “Deixa estar, tudo acontece na frente da lente” já dizia o saudoso Wilson Ferrari Jardim!!!! Estes e outros mais, influenciaram a minha maneira de fazer câmera.
19) O telejornalismo mudou?
- Mudou um pouco sim, acho que hoje ele é mais opinativo que nos anos 70 e 80, por exemplo. Mas isso não quer dizer que ficou pior ou melhor. Quer dizer que hoje formamos opinião com menos responsabilidade, pois tiramos do telespectador o poder de decidir como julgar os fatos.
20) As TVs usam cada vez mais imagens de populares com celular ou câmeras fotográficas. Isso preocupa?
- Sinceramente, de uma forma geral tenho certeza que não! No começo da minha carreira me diziam que minha profissão estava com os dias contados, que num futuro breve eu estaria desempregado; Pois se já se passaram trinta e cinco anos, e o que eu vejo, nas grandes redes de TV, seja nas matérias factuais ou investigativas como nas de produção jornalística (matérias de núcleo), o papel do Repórter Cinematográfico é cada vez mais importante!
O cara dá uma aula! Adorei!
ResponderExcluir"O cinegrafista é o primeiro telespectador": adorei a lição. Grandes Ricardos!
ResponderExcluirQue bacana ver o meu tio (Wilson) reconhecido na sua profissão! Parabéns pela matéria!
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