Início de 1986. Eu era pouco mais que um foca. Um ano e meio de profissão, como repórter na TV e e Rádio Guaíba.
Recebo então uma ligação do jornalista Athaides Miranda. Ele tinha deixado a RBS, onde era repórter. Havia saído de lá junto com um grupo de elite da emissora, o pessoal que produzia o RBS Documento – era o Globo Repórter daqui. O produto mais nobre do jornalismo na emissora líder.
A turma comandada pelo saudoso Paulo Martinbianco foi para a TV Pampa, então afiliada da Rede Manchete. A missão era estruturar um departamento de telejornalismo capaz de fazer frente à RBS e à Rede Globo.
Quem convenceu o dono da Rede Pampa, Otávio Gadret, a investir em equipe e equipamento para fazer um jornalismo de maior qualidade - e mais combativo - na Pampa foi o então diretor de programação da emissora, Clóvis Duarte.
Athaides me convidou a integrar o grupo. Eu era um dos mais inexperientes naquele time de estrelas do jornalismo: Flávio Porcello, Cláudia Nocchi, Elódio Zorzetto, Priscila Barreto, além do próprio Athaides e outros repórteres novatos, como Isabel Raupp, Ruvana De Carli e Ferraz Júnior.
Era um grupo grande e altamente qualificado, algo que não se imaginava naquela época fora da RBS.
Na redação, editores de primeira linha, como Alfredo Vizeu, os irmãos Ângelo e Gilberto Lima, Marco Antônio Schuster, Agapito Hangst, Luiz Antônio Corazza e outros.
Estava nascendo o Jornal Meridional, um telejornal inovador, batizado com o nome do patrocinador, o banco surgido das cinzas de outro falido recentemente, o SulBrasileiro.
Na redação do Meridional: Agapito Hangst,a produtora Aninha, Ricardo Azeredo, Marco Antônio Schuster, a produtora Neiva Rodrigues, Alfredo Vizeu e Paulo Martinbianco
O Jornal Meridional começou com 1 hora de duração. Tinha coberturas extensivas, ousadas e caras (passei quase um mês na Fazenda Anonni, no norte do Estado, acompanhando o nascimento do MST – que alías, foi meu primeiro prêmio de reportagem).
Tínhamos equipes em três turnos, cobrindo de tudo. E comentaristas de peso, como Enéas de Souza, Sérgius Gonzaga, Eduardo “Peninha” Bueno e outros que abrilhantavam o programa.
A equipe se orgulhava de fazer um jornalismo tão ousado quanto independente. Tanto que um episódio se tornou emblemático da coragem – ou do, digamos, romantismo daquela turma.
Na mobilização para a primeira grande greve nacional desde a redemocratização, em protesto contra a inflação alucinada no Governo José Sarney, categorias profissionais e os mais variados segmentos se mobilizavam em todo o país.
E então, a equipe do Jornal Meridional, armada do mais puro - e talvez ingênuo - idealismo jornalístico, decidiu fazer um encerramento diferente no jornal da noite anterior à greve nacional.
Os âncoras Flávio Porcello e Cláudia Nochi fecharam o programa lendo uma nota impensável nos dias de hoje: “ E agora uma última notícia: o Sindicato dos Jornalistas do RS acaba de decidir em assembléia que aderirá à mobilização nacional de amanhã. Portanto, o Jornal Meridional volta DEPOIS DE AMANHÃ. Boa noite!”.
Dá pra acreditar??
A equipe toda compareceu ao local de trabalho no dia da paralização, mas não teve jornal.
O final da história é mais que previsível: poucos dias depois, todo mundo na rua. Quase cinquenta profissionais. A ousadia custou caro.
Mas, independente deste arroubo da equipe, aquele período de um ano e pouco em que o Jornal Meridional esteve no ar foi um dos raros na história do telejornalismo gaúcho em que a hegemonia da RBS e da Globo aqui no sul do mundo foi seriamente afetada pela concorrência.
Outros tempos...
Maravilhoso! Adoraria assistir.
ResponderExcluirMuito boa está matéria, eu penso que a Rede Globo manipula muita coisa e defende muita gente "grande", ousados os teus colegas principalmente naquela época, parabens, como sempre nos surprendendo...Há estás bem melhor agora, rsrsrs..beijos
ResponderExcluirValeu o comentário,Anne! Aparece mais vezes!bj
ResponderExcluirO cara da foto é você?(o da máquina de escrever).
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