A gurizada que está numa faculdade de comunicação e que, com toda razão, fica alarmada com a possibilidade de perder o motivo pelo qual estudarão (e pagarão) por 4 anos ou mais, tem que considerar que a formação técnica da universidade, infelizmente, não é tudo.
Muito menos garantia de emprego.
Insisto num ponto que para mim é especialmente crítico: a formação individual. Algo mais profundo que a assimilação pura e simples de conceitos sobre a semiótica na comunicação, teorias sobre o papel social da imprensa e outros conceitos tipicamente acadêmicos.
Defendo a exigência do diploma, mas é preciso aceitar que ele não é salvo-conduto para uma carreira estável ou bem sucedida.
Pela minha experiência como jornalista formado há 27 anos, e de professor universitário, penso que, o que realmente vai fazer a diferença na hora de batalhar por um emprego - ou se consolidar nele – é, acima de tudo, a formação pessoal.
Sempre bati nesta tecla com os meus alunos nas aulas de rádio e telejornalismo: tão importante quanto a formação acadêmica é ser um jornalista formado como cidadão plenamente capaz da responsabilidade que esta missão traz.
Isto significa ter consciência do nosso papel, tendo noção clara do estrago que somos capazes de fazer quando agimos irresponsavelmente.
Significa também investir na base cultural, ser uma pessoa bem informada não só sobre as manchetes do dia, mas sobre as mais diversas áreas do conhecimento.
Fico assustado com a alienação que assola nossos futuros jornalistas - para não falar de muitos que já estão na linha de frente.
E fico ainda mais apreensivo quando vejo que grande parte dos alunos em final de curso já está trabalhando, estagiando em assessorias de comunicação ou redações – quando não estão empregados mesmo.
Ótimo que já tenham uma colocação. Mas temo pelo desempenho desta gente, e a contribuição que podem dar à nossa sublime missão de bem informar.
Até 2010, eu aplicava sempre, na primeira parte das minhas aulas, o que chamava de “teste de conhecimentos gerais e atualidades”, valendo nota.
Perguntava sobre tudo: os fatos mais importantes do momento e seus desdobramentos, quem escreveu tal livro, quem governa tal país, onde fica determinada nação, o que deflagrou tal guerra, o que significa uma teoria científica x, um conceito de economia y, e por aí vai.
Perguntava sobre tudo: os fatos mais importantes do momento e seus desdobramentos, quem escreveu tal livro, quem governa tal país, onde fica determinada nação, o que deflagrou tal guerra, o que significa uma teoria científica x, um conceito de economia y, e por aí vai.
O resultado geralmente era desastroso. Um lamentável show de respostas inconsistentes e muitas vezes absurdas. Algo realmente desanimador.
Tristemente concluo que a maior parte da gurizada nova que hoje ingressa na profissão está mais ligada nos fuxicos e exibicionismos perpetrados no MSN, Facebook ou Orkut, do que nas capas dos jornais ou sites de notícias. A grande maioria não sabe o que saiu nos telejornais, mas tem na ponta da língua quem vai sendo eliminado do Big Brother.
Nos fones de ouvido, só música (geralmente ruim) ou papos desmiolados em rodinhas de locutores das FMs, especializados em transformar qualquer tema num show de “comentários” ridículos, decorados com gargalhadas quase histéricas. Um modelo hoje consagrado hoje nas FMs, com raras e honrosas exceções.
Outro problema gravíssimo dos futuros profissionais: ter um exemplar de boa literatura sempre à mão? Nem pensar...
O que me anima é que, ao discutir com aqueles mesmos alunos os resultados das provas, eles riam. Mas ao mesmo tempo em que debochavam – um tanto constrangidos - da própria ignorância, iam aos poucos desenvolvendo um certo senso de autocrítica. E nas aulas seguintes revelavam outra atitude, valorizando hábitos como a leitura diária dos jornais, assistir telejornais, ouvir noticiários no rádio, etc.
Por isso, aos recém chegados neste ofício e aos que estão quase lá, insisto: O DIPLOMA NÃO É TUDO!
Para quem vive no mundo da lua, é pouco mais que nada, num mercado cada vez mais competitivo.
Muito bom, Azeredo. Te parafraseando, o diploma pode conferir um "mandato", mas ser jornalista é bem mais que isso.A formação pessoal, e anos com o pé nas ruas são fundamentais.
ResponderExcluirRicardo, compartilhei no meu facebook com o seguinte comentário:
ResponderExcluirMinha nossa senhora!!! Até que enfim acho alguém que pense como eu. Detesto esse "endeusamento" do diploma, como se ele fosse garantir emprego e, mais do que isso, como se ele, o diploma, fosse garantia de um bom jornalista, de um bom profissional. Já vi gente saindo da faculdade, sem nunca ter pisado numa redação, achando que sabia tudo e mais um pouco e na primeira pauta se quebrou todo. Por experiência própria, de quem treinou dezenas de repórteres, eu garanto: diploma não é tudo MESMO!!!! Apenas o diploma NÃO GARANTE um bom profissional. Grande Ricardo Azeredo! Parabéns pela reflexão
Patrícia