Desde sempre, algumas reportagens de TV exigem que o repórter atue de forma agitada, perseguindo os acontecimentos literalmente passo a passo, ritmo acelerado, às vezes até correndo com microfone na mão e gravando ao mesmo tempo.
Normalmente não são performances estudadas. Acontecem assim porque a situação exige: uma ocorrência em que a equipe acompanha policiais em perseguição, um tumulto em que se vê no meio dos acontecimentos, e é preciso escapar das bombas de gás lacrimogêneo, balas perdidas, etc.
Mas nos últimos anos, a reportagem de TV no Brasil foi contaminada por um surto de agitação que influiu diretamente na linguagem das matérias, criando um novo estilo e uma tendência cada vez mais seguida pelo mercado. Um estilo em que repórteres ofegantes, imagens instáveis e edição nervosa criaram uma confusa fronteira entre uma história bem contada e uma narrativa exagerada – quando não espalhafatosa e irreal.
É o chamado “Vem Comigo”.
Uma expressão que em muitos casos vem sendo aplicada de forma injusta.
Ela ficou celebrizada pelo trabalho de um excelente repórter: Goulart de Andrade, veterano da Tupi, Globo, Band, SBT e Record. Até hoje, aos 77 anos, conduz reportagens especiais em que ele conta em detalhes histórias que normalmente não aparecem nos telejornais. Goulart faz uma leitura diferenciada tanto de assuntos factuais, prosaicos ou mesmo os mais bizarros. Usa pouco texto em off; apóia quase toda a narrativa em passagens, que ele sempre termina convidando o telespectador a acompanhá-lo: “Vem comigo!”.
Goulart descreve os assuntos com carisma e elegância, dosando com humor equilibrado quando necessário, e evitando sempre cair no tal sensacionalismo. Hoje ele atua no SBT Repórter, mantendo-se fiel ao estilo que o notabilizou.
O “Vem comigo!” funciona muito bem quando o repórter tem o que dizer, sabe improvisar sem ser repetitivo, exagerado ou mesmo alarmista. Narrar o fato no calor dos acontecimentos exige objetividade e apreço à verdade, evitando a sedução da dramatização exacerbada e do exibicionismo.
Repórteres que supervalorizam um assunto inflando a narrativa com adjetivos fortes, criando “teorias” pessoais para o que vê (ou pior, para o que não vê), narrando quase aos gritos e impondo um ritmo forçosamente frenético, parecem mais anunciantes de tele-vendas que jornalistas.
Mas aí vem a pergunta: é possível conduzir reportagens em programas de temática policial e dramas do cotidiano, sem ser “over” no papel de narrador dos fatos?
Claro que sim. E as provas estão aí, no ar. Confira no próximo post sobre o tema. Até lá!
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