Uma tendência que se estabeleceu no telejornalismo brasileiro nos últimos anos e que, ao que tudo indica, terá vida longa.
Mas até que ponto as abordagens frenéticas, com repórteres desnecessariamente ofegantes e imagens nervosas, poderão se tornar o estilo predominante nos telejornais?
O último post terminou com a seguinte pergunta: é possível conduzir reportagens em programas de temática policial e dramas do cotidiano sem ser “over” no papel de narrador dos fatos?
Sem dúvida!
Uma tendência da mídia jornalística não representa um decreto sobre posturas de repórteres; e muito menos a consolidação de um estilo único, padrão, nos telejornais.
Mesmo que um programa seja voltado essencialmente para notícias policiais (Cidade Alerta, Brasil Urgente, Balanço Geral e outros), e ainda que seus âncoras incorporem um modelo mais personalista, e muitas vezes caricatural, os repórteres podem se adequar à linguagem que os editores pedem, sem no entanto precisarem bancar histéricos perseguidores de ladrões de galinha.
É possível sim, contar uma boa história - mesmo as do chamado “mundo cão” - sem ignorar a sensatez e o equilíbrio, preservando nossa tarefa primordial que é a de informar, e informar bem.
Se o “Vem comigo!” exige muita capacidade de improviso, com narrativas como se fossem ao vivo, isso não significa que o clima daquele momento justifica atropelar a gramática e, principalmente, a verdade.
Quando um repórter é pego de surpresa numa pauta em que vai ter que improvisar o tempo todo, o que vai fazer a diferença entre uma abordagem frenética, inconsistente, e um trabalho sério, é a base de informações que ele tem sobre o universo em que trabalha.
Se a pauta diária é dominada pelos assuntos policiais, o repórter e o repórter cinematográfico tem que conhecer bem armamentos, as rotinas e táticas policiais, as características sócio-econômicas das comunidades que habitualmente cobrem.
Essencial também entender as peculiaridades da natureza humana, para não expor pessoas inocentes e provocar tsunamis que arrasam reputações e prejudicam, algumas vezes definitivamente, as vidas de famílias ou instituições.
É bom não esquecer: nosso ofício, quando mal aplicado, é extremamente eficiente na arte de acabar com a vida das pessoas.
Por fim, e não menos importante: um vocabulário bem calibrado garante um improviso mais seguro e consistente.
E isso, claro, só se resolve com muita leitura.
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