quarta-feira, 28 de março de 2012

O OLHAR DO CINEGRAFISTA: TÉCNICA E ATITUDE!


Este é um assunto com um belo potencial para criar crises entre repórteres e cinegrafistas.


Mas é preciso superar os melindres, em nome do melhor resultado.
Para começar, é preciso estabelecer uma diferença básica: há duas categorias de profissionais da câmera: os operadores de câmera e os repórteres cinematográficos, ou cinegrafistas.

Os dois operam equipamentos similares, mas com linguagens e aplicações diferentes.

Operadores de câmera geralmente trabalham no estúdio, com câmeras em dollyes (tripés ou suportes hidráulicos com rodas), e seguindo um roteiro pré-estabelecido de movimentos e enquadramentos. Recebem ordens pelos fones, ditadas normalmente pelo diretor de imagens.

Repórteres cinematográficos trabalham em externas, tendo a maior parte do tempo a câmera no ombro.  E precisam estar permanentemente atentos a tudo ao seu redor.

Ao contrário dos operadores, enquadrados como técnicos radialistas, os cinegrafistas, em muitas emissoras, tem quase status de jornalistas - menos no salário, claro...    

As regras básicas valem para as duas categorias. Mas existem parâmetros que vão muito além do enquadramento correto, foco ajustado, movimento adequado e iluminação afinada.

E são especialmente críticos para os repórteres cinematográficos, que atuam nas ruas tendo apenas o próprio olho como “diretor” de imagens.

Pequenas distrações provocam grandes danos na imagem.

Ao enquadrar o repórter (e mesmo entrevistados), o cinegrafista tem que zelar por detalhes que vão além do básico.

Fio de microfone de lapela ou do fone aparecendo, cabelo desalinhado, roupa amassada ou desajeitada, brincos extravagantes, manchas de sujeira na pele, adereços inadequados, caneta despontando no bolso, gola de fora, gravata torta, repórter ruminando chiclete, zíper aberto, etc, etc.

Ok, você pode dizer que isso deve ser preocupação do repórter, é ele que tem que cuidar da sua imagem; o cabelo é dele, a roupa é dele, é ele quem vai estar na tela para milhares ou milhões de pessoas.

Óbvio que o repórter deve obrigatoriamente cuidar destes detalhes.   Mas, muitas vezes, as circunstâncias do momento provocam estas distrações. E ele nem sempre percebe que está desgrenhado na imagem.

E, no final das contas, o verdadeiro responsável pela qualidade da imagem é o cinegrafista.

Ele não pode simplesmente perceber algumas destas imperfeições e deixar passar, colocando a responsabilidade no repórter.  

Pode parecer injusto falar assim., mas a imagem que vai para a tela do telespectador é resultado do trabalho do cinegrafista. Simples assim.

Ele tem que abrir mão de posturas radicais do tipo “azar deste repórter se não sabe se arrumar nem pentear o cabelo! Fiz meu trabalho e pronto!”

Todo cinegrafista deve chamar a atenção do(a) repórter quando percebe algum destes problemas.
Deve alertar para o cabelo desarrumado, o nó mal feito da gravata ou o brinco gritante.

Bem, se o repórter não acatar, aí sim, é azar dele. O importante é que o cinegrafista fez sua parte ao tentar a melhor composição de imagem. 

O cinegrafista, independentemente de questões pessoais, deve ter o sentimento de querer ver o seu repórter bem no vídeo. Televisão é imagem.

Muitos cinegrafistas discordarão, pois tudo isso tem muito a ver com posturas pessoais.

Vamos a outro exemplo - um tanto radical, mas apropriado nesta discussão: se um repórter é baixinho (como eu...) e o entrevistado muito mais alto, o cinegrafista deve encontrar uma maneira de atenuar esta diferença. Não por caprichos do repórter, mas pelo bem do enquadramento e da composição.
Não significa dizer que ele tem que bancar Deus e esticar o repórter  ou encolher o entrevistado.

O cinegrafista precisa, antes de achar que a culpa das estaturas não é dele, entender que acima de tudo vem a plasticidade da imagem, a composição equilibrada que vai manter a atenção no telespectador no tema da entrevista.

Nem sempre isso será possível. Mas o cinegrafista cuidadoso vai pelo menos levar isso em consideração antes de gravar.

Ser meticuloso em relação a todos os detalhes mencionados aqui é característica dos verdadeiros repórteres cinematográficos.

Incontáveis vezes, minha imagem no ar foi salva pelo capricho visual de colegas cinegrafistas atenciosos não só comigo, mas principalmente com a imagem que eles assinariam.

Televisão é imagem.
Mas não qualquer imagem.



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