A rede de TV árabe Al Jazeera deu esta semana uma admirável demonstração de seriedade e maturidade profissional ao atender um pedido do presidente francês Nicolas Sarcozy.
A emissora árabe (sediada no Qatar) tinha em mãos um vídeo exclusivo enviado anonimamente pelo correio.
A gravação de 25 minutos, num pen drive, mostrava cenas feitas pelo fanático muçulmano Mohamed Merah.
Ele gravou, com uma câmera presa no peito, o ataque que fez a uma escola judaica em Toulouse, arredores de Paris, na semana anterior.
Alegando vingança pelas crianças palestinas e punição para os franceses pelo envio de tropas ao Afeganistão, ele matou três militares, um professor e três crianças. Acabou morto por policiais na quinta-feira passada, após um cerco de 32 horas.
Em vez de incendiar ainda mais os ânimos sempre acirrados contra o ocidente no mundo árabe, a Al Jazeera, tão logo recebeu e avaliou a gravação, informou as autoridades francesas. Quantas emissoras ocidentais teriam tomado esta atitude?
Sarkozy fez então um apelo à emissora para que o material não fosse veiculado, argumentando que não haveria justificativa para exibir a morte de cidadãos franceses naquelas circunstâncias.
Havia também, embora Sarcozy não tivesse mencionado, o temor de que as imagens pudessem incitar outros radicais suicidas.
Muito além da surrada questão do terrorismo, o que também merece reflexão nisso tudo é a postura adotada pela rede árabe. Um gesto que deve ser saudado nestes tempos em que ainda ecoam as paranóias do 11 de setembro, e que alimentam a imagem rancorosa que o ocidente tem do mundo muçulmano.
A Al Jazeera não só evitou ceder ao sensacionalismo como ainda vetou a distribuição do material para outras emissoras. Certamente, muitas redes ocidentais teriam agido diferente.
E mostrou que, apesar dos tresloucados com túnicas e bombas na cintura, o Oriente Médio é muito mais que um mundo de imagens exóticas povoado por uma gente misteriosa cheia de intenções obscuras.
Ao justificar a decisão de não veicular o vídeo a al-Jazeera disse que as imagens nada acrescentavam às informações que o público já tinha. E, ainda, revelou que inúmeros canais pediam cópia do material.
ResponderExcluirTá aí. A emissora perdeu uma baita oportunidade de multiplicar audiência e fazer o próprio marketing. "Imagens exclusivas" soa muito bem, sempre.
Ao contrário, deu mais um passo, largo, em busca da tolerância e do entedimento entre ocidente X mundo islâmico.
Bela observação, Azeredo. Que chegue aos olhos de muitos colegas ;)